quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Jesus tinha irmãos ?

Adaptado por mim



Há menções cabais nos evangelhos aos irmãos de Jesus, bem como nas epistolas de São Paulo. A menção mais explicativa, porque explicita a ponto de citar-lhes os nomes, surge no contexto do episódio em que os habitantes de Nazaré se surpreendem em ver aquele conterrâneo, do qual aparentemente tão pouco esperavam, de repente brilhar na pregação na sinagoga: “Não é ele o filho do carpinteiro? Não se chama a mãe dele Maria e os irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E as suas irmãs não vivem todas entre nós?” (Mt. 13:55-56). O que aconteceu com os irmãos de Jesus – bem como com as irmãs, não nomeadas nem quantificadas – foi o que a Igreja católica, a partir de elaborações de São Jerônimo, no século IV, passou a encobrir-lhes a existência. Jerônimo, construiu a teoria de que os irmãos citados no Novo Testamento seriam de fato primos, tratados de irmãos em função de confusão lingüística. A Igreja Ortodoxa foi por outro caminho, alegando que os irmãos dos textos seriam meio-irmãos, filhos de um casamento anterior de José. Em ambos os casos, a razão é a mesma: o fato de que a Teologia, não satisfeita com a virgindade de Maria antes do nascimento de Jesus, ou virginitas ante partum, como se diz em latim, quis lhe atribuir também uma virginitas post partum, ou seja, depois do parto, e para toda a vida. Do ponto de vista histórico e filológico, os irmãos de Jesus referidos nos Evangelhos devem ser considerados irmãos de verdade.

Onde nasceu Jesus?

Adaptado por mim.



Qualquer criança tem a resposta errada na ponta língua: Belém. A questão não é simples. Era de conhecimento amplo, no circulo de Jesus, durante sua vida, que ele era de Nazaré, na Galiléia, assim como seus pais. Para fazê-lo nascer na mais prestigiosa Belém, na Judéia, celebre entre os Judeus por ser o berço de Davi, e para conciliar este fato com a arqui-sabida origem nazarena de Jesus, os dois únicos evangelistas que tratam de sua infância – Mateus e Lucas – recorrem a expedientes complicados e, lastimavelmente, contraditórios entre si. Mateus dá a entender que a família morava em Belém, e que de lá fugiram para escapar do massacre dos recém-nascidos ordenado por Herodes. Num longo desvio, vão para o Egito e, na volta para a Palestina, por julgar Belém ainda um lugar perigoso, José decide estabelecer-se em Nazaré. Lucas, por seu lado, parte do principio oposto de que José e Maria moravam em Nazaré. Mas em função do censo ordenado por Augusto, em que todas as pessoas deveriam se registrar não no local onde residiam, mas no de origem de seus antepassados, deslocaram-se a Belém, terra dos antepassados de José. Não só não houve esse censo como a totalidade dos historiadores da Antiguidade jamais captou sinal de que um censo romano, cuja finalidade era a mais direta possível – taxar pessoas - , pudesse ser orientado no sentido de forçá-las a procurar a cidade dos antepassados, o que, além de não oferecer resultado prático perceptível, configuraria um transtorno logístico de consideráveis proporções, com vastas multidões se deslocando de um lado para o outro. O Padre John Meier, professor de Novo Testamento da Universidade Católica da America, em Washington, e autor do livro : A Marginal Jew – Rethinking the Historical Jesus -, considera mais provável que Jesus tenha nascido em Nazaré. O nascimento em Belém convinha aos evangelistas para fazer cumprir antigas profecias de que o Messias viria da cidade de Davi.



Quando nasceu e quantos anos viveu Jesus?


Adaptado Por Mim.

Não apenas no que se refere ao local de nascimento mas também a vários outros, os relatos da infância dos evangelhos são contraditórios. Eles coincidem em certos pontos, no entanto, por exemplo, em afirmar que Jesus nasceu sob o reinado de Herodes. O dado deve ser histórico. Os estudos do John Meier conduzem-nos a conclusão de que Jesus nasceu no ano 7 ou 6 a.C., pouco antes da morte de Herodes, em 4 a.C.. Quanto à morte, Meier é preciso a ponto de propor uma data completa: 7 de abril do ano 30. Ele teria por volta de 36 anos. Os cálculos do historiador da Antiguidade Robin Lane Fox, autor de um livro que breve será lançado no Brasil – Verdade e Ficção na Bíblia - , conduzem a uma diferente data da morte: 30 de março do ano 36. A hipótese de Lane Fox para o nascimento recua aos arredores do ano 10 a.C.; ou ainda antes, o que nos leva a um Jesus cinqüentão ou quase, distante da idéia convencional, mas próximo de uma passagem do Evangelho de João em que, numa discussão com os ortodoxos do Templo, a certa altura os adversários de Jesus caçoavam dele dizendo, em resposta à sua afirmação de que já tinha visto Abrão: “Não tens ainda 50 anos e viste Abraão!” (Jo.8:57).

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terça-feira, 28 de setembro de 2010

CRISTOLOGIA

SUMÁRIO



Capítulo I — Conceito Básicos em Cristologia .......................02

Capítulo II — Cristo na História .................................................10

Capítulo III — O Salvador do Mundo .........................................15

Apêndice A — Cristo de Gênesis a Apocalipse .....................32

Apêndice B — Heresias Cristológicas Através dos Séculos 33

Apêndice C - Os Concílios Cristológicos..................................37


BIBLIOGRAFIA ............................................................................36

INTRODUÇÃO

As narrativas de Mc 8.29 e de mt 16.15 se caracterizam por mostrar Jesus, antes de anunciar sua paixão (sofrimento pelos pecados da humanidade), fazendo-lhes a pergunta mais decisiva: “E vós, que dizeis que eu sou?” Pedro disse: “Tu és o cristo, o filho do Deus vivo”.
Talvez a declaração de Pedro posa ser assumida como a primeira afirmação cristológica. “A resposta de Pedro coincide com o conteúdo da primeira pregação apostólica no Pentecostes: Que toda casa de Israel saiba com certeza: a esse Jesus que vós crucificastes Deus o fez Senhor e Cristo”. At 2.36.
O Cristo, O Senhor, o Filho de Deus, esses três título constituem o núcleo da fé cristológica primitiva. Nasceu assim a confissão de fé: Jesus é o Cristo. Depois Jesus, o Cristo. E Jesus Cristo.
A questão chave do universo continua sendo: “que pensais vós do Cristo?” Mat. 22:42. A história tem seu centro e decisão no Cristo! História do mundo ... e de cada indivíduo! É isso que se estuda em Cristologia, estudo teológico cristão da personalidade e da obra de Cristo, em sua face humana. Iniciou-se com as primeiras comunidades cristãs.



Capítulo I
CONCEITOS BÁSICOS EM CRISTOLOGIA

Qualquer outra “religião” pouco perderia com a descoberta de que seu fundador não existiu realmente, não foi exatamente o que se crê, ou teve falha no ensino ou no proceder. É possível ter budismo sem Buda, confucionismo sem Confúcio e islamismo sem Maomé, mas não cristianismo sem “Cristo em vós, a esperança da glória”!
No budismo Gautama (Buda) é um salvador, mas como um “iluminado”, como alguém que deu um exemplo, apontando aos outros o caminho. Jesus, ao contrario, é o caminho. Desde os tempos dos apóstolos a fé crista proclamando Jesus como um salvador universal.
Cristianismo é uma pessoa — o Cristo! Nele está o cumprimento do propósito de Deus em derramar sua benção sobre todos os que crêem e por Ele o julgamento dos que não crêem.
Qualquer ensinamento que acrescente ou diminua a pessoa de Cristo é errado e herético. Por isso creio que o Cristo de Deus é preexistente, encarnado, nascido virginalmente, totalmente humano e totalmente divino, uma pessoa particular que morreu, ressuscitou, ascendeu aos céus e que voltará.
A pessoa e a obra de Jesus constituem a fonte, o centro e o fim, o alfa e o ômega de tudo que o cristianismo significa e anuncia ao mundo. Por ele os cristãos aprendem a descobrir que, é, realmente, Deus, quem são os homens, qual sua verdadeira origem e destino, qual o significado e o valor do mundo e da história, qual o papel da igreja como guia da humanidade em seu peregrinar pelos séculos afora.

A VIDA DE CRISTO
Podemos distinguir três momentos ou fases na vida de Cristo: pré-existência, existência e pós-existência. Na pré-existência viveu por toda a eternidade passada, no Céu, junto ao Pai, como Deus. Na existência Ele vive trinta e três anos como homem, na Terra. Na pós-existência, Ele vive e viverá por toda a eternidade futura, no Céu, junto ao Pai, como Deus.

Preexistência
Isto significa que ele sempre existiu e existirá, que nunca teve começo ou terá fim. Isto é ensinado tanto no Antigo Testamento com no Novo Testamento.

A. No Antigo Testamento:
1. Pelas aparições e referências ao Anjo do Senhor: é o que podemos classificar como Teofanias. (Teofania na história das religiões, situação em que a divindade se faz presente de alguma maneira aos homens. ©Enciclopédia Britânica do Brasil Publicações Ltda.)
a) A Hagar: Gn 21.17
b) A Abraão: Gn 22.11-12 ver vs. 2
c) A Jacó: Gn 48.16 conferir com Gn 32.22-32
d) A Gideão: Jz 6.11-24
e) A Manoá: Jz 13.1-9 ver Is 9.6; 28.29
f) Em Referencia ao Anjo da Aliança: Ml 3.1 (aqui é o mesmo Jeová)
g) No discurso de Estevão foi o mesmo que deu a lei: At 7.38-39 cf. Ex 19.1-20.19
h) Por referência ao Santo: II Rs 19.22; Sl 16.10; 89.18; Pv 9.10 Is 12.6; 37.23; 41.14; i) 57.15; Os 11.9 – Mc 1.24; Lc 4.34; Jo 6.69; At 2.27.
i) Davi entendia: Sl 16.10; 110.1
B. No Novo Testamento:
a) No testemunho de João Batista. Jo 1.15;
b) Cristo falou da sua preexistência: Jo 8.58; 17.5,24;
c) Os apóstolos testemunharam: Jo 1.1-2; Fl 2.5-7; Cl 1.17; Hb 1.1-3

A Preexistência de Cristo é evidente pelo ensino do Antigo Testamento e do Novo Testamento, sendo o Anjo do Senhor o mesmo Jeová, este expressa toda a Deidade aquele a uma personalidade.

Existência - A Encarnação
A. Significa que Ele partiu de sua condição preexistente:
a) Foi enviado: Jo 3.17; Rm 8.3; Gl 4.4;
b) Ele veio: Mt 20.28; Jo 1.11; 3.13; 6.51; 8.14; I Tm 1.15;
c) No tempo exato: Gl 4.4
B. A Natureza da Encarnação
1. Ele esvaziou-se a si mesmo: Fl 2.7 – Isto não significa que Ele abandonou ou mesmo limitou o exercício de seus atributos, mas da mudança de seu domicílio e limitação de sua glória visível.
a) A mudança de sua morada: dos céus à terra. Jo 6.51
b) Mudança de suas possessões: de riqueza à pobreza. II Co 8.9; Lc 9.58;
c) Mudança de servido a servidor: Fl 2.6-7; Mt 20.26-28
d) Mudança de forma: da forma de Deus a Semelhança de homens. Fl 2.6-7.
e) Limitação de glória: João 17.5; Mat. 17.1-8 (Ele a apresentou quando quis).
2. Tornou-se em semelhança de homens:
a) Em semelhança de carne pecaminosa. Rom. 8.3
b) Se fez carne. João 1.14 [3]
c) Há Condenação para quem nega isto. I Jo 4.2-3
3. O Método da Encarnação:
a) Pelo Nascimento virginal. Gl 4.4 – feito da mulher
b) A encarnação não foi sua origem, mas sua entrada no mundo.
C. Finalidade da encarnação:
- revelar o deus invisível João 1:18; 14:9.
- cumprir as profecias de um salvador (Gên. 3:15; is 53:4-6; Dan. 9:26; 1co 5:7) e rei (Gên. 17:6,16; 49:9-10; 2 Sam. 7:12-13; Sal. 8; 24; 45; 110; Zac. 14:9).
- revelar o pai (conceito novo, Deus como pai!) Mat. 6:9; João 1:18; 14:9; 16:27; Mat. 6:8,32; 5:45.
- fazer sacrifício por nossos pecados, removê-los Isa. 53:6; Mar. 10:45; João 1:29,36; 2 Cor. 5:21; Heb. 2:9; 9:26; 10:4-5,10,12; 1 João 3:5.
- reconciliar o homem com Deus 2 Cor. 5:19; Heb. 2:17; 1 Tim. 2:5-6.
- ser-nos fiel sumo sacerdote, Heb. 9:26
- prover, para os crentes:
- um exemplo de vida, santa Mat. 11:29; 1 Ped. 2:21; 1 João 2:6, os escritores da Bíblia foram infalíveis em ensino, mas não em caráter. O Cristo é o único infalível em ambos aspectos! transformemo-nos na imagem do senhor, por olharmos, como que em um espelho, a sua glória 2 Cor. 3:18.
- um fiel e compassivo sumo sacerdote, Heb. 2:17; 3:1; 9:26.
- e o escape para a maldição sobre adão, Rom. 5:12.
- destruir o diabo e suas obras, Heb. 2:14; 1 João 3:8. Este está vencido João 12:31; 14:30, será lançado no lago de fogo Apoc. 20:10, tudo o que alcançou pela introdução do pecado será desfeito (exceto punição aos seus seguidores).
- sarar os quebrantados de coração, Luc. 4:18.
- pôr em liberdade os oprimidos, Luc. 4:18.
- dar vida, vida abundante, João 3:36; 10:10.
- glorificar o pai, João 13:31; 14:13; 17:4.
- preparar para sua segunda vinda (apenas então nossa salvação completar-se-á), Heb. 9:28; Apoc. 5:6.


O Nascimento Virginal
Isto significa que o nascimento de Jesus foi desde anteriormente predeterminado, foi pela concepção miraculosa do Espírito Santo antes mesmo de Maria ter coabitado com José. Foi um ato de nascimento natural como o de qualquer ser humano.

A. Já estava profetizado no Antigo Testamento:
A semente da mulher. Gn 3.15;
O Renovo: Is 53.2
A Virgem conceberá: Is 7.14 termo é παρθενος na LXX
Um sinal
Conceberá e dará a luz
Será Deus conosco: (Emanuel)
B. O ensino do Novo Testamento:
Está mais detalhado em Mateus e Lucas, ambos relatam que:
Sua mãe tinha o nome Maria. Mt 1.18; Lc 1.27
Era virgem. Mt 1.18-23; Lc 1.27,34
Desposada com José. Mt 1.18; Lc 1.27
Anunciado pelo anjo. Mt 1.20; Lc 1.26
Maria não tinha coabitado com José. Mt 1.18; Lc 1.27,34
A concepção foi de Espírito Santo. Mt 1.20; Lc 1.35
A criança tinha o nome Jesus. Mt 1.25; 2.21
A criança era o salvador de seu povo. Mt 1.21; Lc 2.11
José tomou para ser esposa antes do nascimento: Mt 1.24; Lc 2.5
Nasceu em Belém. Mt 2.1; 1.25; Lc 2.4-7, 21.1 [4]
Mas não é ignorado em outros trechos:
Em João. Jo 1.14; 6.41-42; 8.14-49
Em Gálatas. Gl 4.4,23,29
Em Romanos 1.3

A crença somente no nascimento virginal não salva, mas aquele que o nega não é de Deus, pois nega a própria humanidade de Cristo. I Jo 4.2-3.

Encarnação
Noção teológica que para os cristãos de maneira geral se exprime no dogma cristológico, o qual estabelece a natureza divina de Jesus, a encarnação constitui também um dos pontos centrais do hinduísmo.
Encarnação é o ato pelo qual um Deus assume forma e natureza humanas. O hinduísmo designa com o nome de avatar a encarnação de deuses ou de espíritos, bem como a reencarnação de almas humanas, que voltam à Terra depois da morte para continuar seu processo de purificação ou ascensão espiritual até a plena libertação.
No hinduísmo, os avatares mais importantes são os de Vishnu, deus conservador, providente e amigo dos homens, que, na segunda idade cósmica, se encarnou para libertar a Índia do demônio Ravana, tomando o nome e a personalidade de Rama, herói nacional. Encarnou-se, na terceira idade, em Krishna, para ensinar à humanidade, por intermédio do príncipe Arjuna, a doutrina da libertação, baseada no amor por um deus único.
Para os cristãos, encarnação é o mistério segundo o qual o Verbo divino, segunda pessoa da Trindade, assumiu um corpo e viveu entre os homens. O termo inspira-se nas palavras de são João Evangelista: "O Verbo se fez carne." A mensagem cristã no Evangelho, ou "boa nova", identifica com Jesus de Nazaré o Messias prometido e esperado. O símbolo católico denominado Credo proclama a encarnação, a morte redentora de Jesus Cristo na cruz, sua ressurreição e seu retorno a Deus-Pai, acontecimentos em virtude dos quais se realiza o plano divino da salvação.
Desde o primeiro século do cristianismo surgiu a questão de como explicar o mistério da encarnação divina. Para alguns heréticos, Deus não poderia assumir a condição humana em toda a sua realidade. Outros afirmavam que Jesus era um homem igual a qualquer outro e negavam sua divindade. A questão do dogma cristológico foi objeto de vários concílios: os de Nicéia, em 325; de Constantinopla, em 381; de Éfeso, em 431; de Calcedônia, em 451; e o III de Constantinopla, entre 680 e 681. Este último exarou a fórmula que se tornou clássica: "Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem."

A Preparação do Mundo Para o Cristo
A História secular, não faz sentido, se não percebemos, a preparação, que o mundo passou para a vinda do Salvador. Jesus nasceu, segundo a Bíblia, na “plenitude do tempo”.
Deus na sua onisciência e soberania, entregou os homens às suas próprias vontades, a ponto das religiões da época não mais satisfazerem a sede da alma, e os homens se corrompiam cada vez mais.
1 - A contribuição dos povos
* ROMA - Abertura de estradas, período de paz
* GREGOS – Idioma (GREGO COINÊ)
* JUDEU – Religião
2 - A formação do povo judeu de onde veio o Salvador
* Chamada de Abraão
* Deus ensina este Povo: - Lei
- A profecia - escrita ou oral
- O cativeiro babilônico
* A mudança do povo judeu, de Agrícola para uma nação mercantil.
Com o povo judeu preparado, pelo menos sobre o ponto de vista religioso, eram monoteístas, seguiam a lei, muitos até extremistas, o Salvador poderia chegar. Pois teria um povo para trabalhar, e por ele levar a Sua mensagem de boas-novas a todas as nações.

A NATUREZA DE CRISTO
Na qualidade de Deus-homem e homem-Deus, Cristo, diferentemente dos seres humanos comuns, possui duas naturezas numa só pessoa: uma divina e outra humana. É o que se chama tecnicamente de natureza teantrópica. Jesus Cristo, para sempre sendo uma só pessoa, desde a encarnação e para sempre tem 2 naturezas, unidas indissolúvel mas subsistentemente. Simultaneamente: Ele é completa e totalmente Deus, e completa e totalmente homem (impecável); sem perda dessas naturezas, nem formação de nova natureza. Por isso, Ele pode dar a aparência de fraco, sendo onipotente; de finito, sendo infinito; de crescer em conhecimento, sendo onisciente; de ser localizado, sendo onipresente. A personalidade do Cristo reside na Sua natureza divina e não na humana, porque ao Verbo não foi adicionada uma pessoa humana, mas sim uma natureza humana.

Sua Humanidade
Cristo é totalmente humano, isto é demonstrado pelo seu nascimento humano, ele teve nomes humanos, crescimento e desenvolvimento humano. Ele teve elementos essenciais da natureza humana, emoções e sentimentos humanos.
A. Ele teve nascimento humano: Cristo não somente nasceu de mulher como também tinha uma ascendência humana (Mt 1.1). A própria atitude de Maria e José em procurar um abrigo na estalagem explica o temor da fragilidade de um nascimento humano. Lc 2.6-7 [5]
B. Ele teve crescimento e desenvolvimento humano: Jesus foi circuncidado como as crianças judaicas. Lc 2.21; Apresentado no templo como as crianças judaicas de sua época. Lc 2.22-24; Crescia em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens – isto incluía desenvolvimento físico e mental. Lc 2.52
C. Ele teve nomes humanos:
a) Jesus: este é no grego Ιησυς para Josué no hebraico Yeshû‘â no Antigo Testamento (Salvador ou salvação de Jeová)
b) Filho do Homem: Lc 19.10 em Ez 2.1; 3.17, 33.7 – Deus usa para com Ezequiel o mesmo título, isto significa o ser mais humano dos homens. E é o título chave de Lucas para enfatizar a humanidade de Cristo. Ainda em Sl 8.4 e 144.3
c) Jesus, o nazareno: Mt 2.23; At 2.22
d) O profeta: Mt 21.11 conferir com Dt 18.15
e) O carpinteiro: Mc 6.3
f) Cristo Jesus, Homem. I Tm 2.5 [7]
D. Ele teve os elementos essenciais da Natureza Humana:
a) Tinha corpo: Mt 26.12; Lc 24.39; Jo 2.21; Hb 2.14; 10.5,10.
b) Tinha alma: Jo 12.27 conferir com At 2.27,31
c) Tinha espírito: Mc 2.8, 12; Lc 23.46; Jo 13.21
E. Ele tinha emoção e sentimentos humanos:
a) Compaixão pelas almas perdidas. Mt 9.36; Lc 13.34
b) Teve cansaço (Jo 4.6), fome (Mt 4.2; 21.18), sede (Jo 19.28) e sono (Mt 8.24)
c) Foi tentado. Mt 4.1-11; Hb 2.18; 4.15; Tg 1.13
d) Chorou. Jo 11.35.

Sua Divindade
Cristo era e é totalmente Deus. Este ensino está claro nas Escrituras pelos nomes a Ele atribuídos, o culto divino lhe é dado, pelos ofícios divinos atribuídos a Ele, pelo cumprimento no Novo Testamento as declarações de Antigo Testamento feito à Jeová e pela associação do nome de Jesus Cristo, o filho, com o de Deus Pai.
A. Pelos nomes:
1. Deus: Hb 1.8 – “o teu trono ó Deus ...” Jo 1.18; 5.20; 20.28; Rm 9.5; Tt 2.13; I Jo 5.20;
2. Filho de Deus: Mt 8.29; 16.16-17; 27.40, 43; Mc 14.61-62; Lc 22.70; Jo 5.25; 10.36; 11.4;
3. O primeiro e o último, o alfa e o ômega: Ap 1.8, 17 conferir com Is 41.4; 44.6. Ap 22.12-13, 15.
4. O Santo. At 3.14 conferir com Os 11.9
5. Senhor. Lc 2.11; At 4.33; 9.17; 16.31; (Senhor é o mesmo para Jeová no Antigo Testamento).
a) De todos. At 10.36
b) Da Glória. I Co 2.8
B. Pelo Culto divino dado a Ele
1. Só a Deus é exclusivamente o culto das Escrituras. Mt 4.10; At 10.25-26; 12.20-25; 14.14-15; Ap 22.8-9.
2. Jesus aceitou adoração sem hesitar. Mt 14.13; Jo 13.13; Lc 24.52.
3. A Bíblia ensina a adoração a Cristo. Fl 2.10-11; Hb 1.6;
4. A Igreja primitiva adorava. At 7.59; I Co 1.2;
C. Pelos ofícios divinos que as Escrituras lhe atribuem
1. Criador do Universo. Jo 1.3; Cl 1.16; Hb 1.10;
2. Preservador de tudo. Hb 1.3; Cl 1.17;
3. Perdoador de pecados. Mc 2.5,10-11;
4. Juiz de vivos e de mortos. Jo 5.22-23; At 17.31; II Tm 4.1;
5. Doador da Vida Eterna. Jo 17.2; 10.28
D. Pelo cumprimento em Cristo no Novo Testamento, as afirmações do Antigo Testamento a respeito de Jeová. Sl 102. 24-27 com Hb 1.10-12; Is 40.3- com Lc 1.68-69,76; Jr 17.10 com Ap 2.23.
E. O Filho de Deus
1. Jesus é identificado como o Filho de Deus. Mt 14.33; 16.16; Lc 8.28
2. O Filho de Deus é Deus. [11] Jo 5.18; I Jo 5.20
A Divindade do Filho é totalmente sustentada pela Bíblia e como pessoa integrante da triunidade de Deus, qualquer ensino contrário a isto é herético e portanto anticristão.

A Pessoa de Cristo
O Filho é verdadeiramente Deus e verdadeiramente humano; são duas naturezas distintas que formam uma única pessoa.
A. Unidade indivisível da pessoa de Cristo: o próprio nome Filho de Deus reúne essa unidade.
1. Cristo agia como uma única pessoa. Mt 16.13-17; Jo 8.58;
2. A sede desta unidade estava na sua natureza divina. [12] Hb 13.8; I Co 15.47
B. União das duas naturezas (ou união hipostática) [13] Hb 1.2-3; Jo 1.1-3,14,18.
Significa que embora as naturezas sejam distintas elas formam uma unidade, não sendo o Filho dividido ou partido em duas pessoas, mas um e o mesmo Filho Unigênito, Deus Verbo e Senhor Jesus Cristo.
C. O Caráter dessa Pessoa:
1. Santo: At 3.14; 13.35; Hb4.15;
2. Justo: At 3.14; 7.52;
3. Amoroso: Jo 11.36; 13.1; 15.9; Ef 5.2,25
4. Misericordioso: Mt 9.35-38; 23.37; Hb 2.17.
O Filho tem duas naturezas indivisíveis e distintas, unidas hipostaticamente (numa só substância) que formam a Segunda pessoa da Deidade.

A Morte de Cristo
O evento da morte de Cristo marca o plano de Deus na história da humanidade. Só alguém verdadeiramente humano poderia morrer.
A. Sua Importância:
Cristo mesmo estava intimamente relacionado com ela, sendo esta morte a conexão vital com a encarnação cumprindo assim o lugar proeminente que lhe é dado nas Escrituras. Lc 9.30-31; 24.27,44; Hb 2.14; I Co 15.1,3-4; Ap 5.8-12. Ele não foi apenas um mártir. Não morreu apenas fisicamente, mas animicamente.
B. Sua Necessidade:
Ele precisou morrer para cumprir o propósito eterno de Deus e obedecer Sua vontade, para cumprir as profecias e compartilhar a Vida Eterna com os pecadores. Ap 13.8; I Pd 1.19-20; Mt 26.38-39,42,44, 52-54; Jo 3.14-15.
C. Sua Natureza:
1. O que não foi a morte de Cristo:
Há várias teorias, as quais tentem tirar o verdadeiro significado da morte de Cristo tais como: a teoria de apenas um grande mártir, a de apenas um exercício de influencia moral, a governamental e a teoria do amor de Deus.
2. O que foi a morte de Cristo:
a) Predeterminada: planejada com antecedência. At 2.23; I Pd 1.18-20
b) Foi voluntária. Jo 10.17-18
c) Vicária: em favor de outros. I Pd 3.18; I Co 15.3; Rm 4.25
d) Foi sacrificial. I Co 5.7
e) Foi expiatória: isto significa que foi uma anulação da culpa ou remoção do pecado por meio da interposição meritória de Cristo. Gl 3.13
f) Propiciatória. I Jo 4.10; Rm 3.25
g) Redentora. Gl 4.4-5; Mt 20.28
h) Foi substitutiva. II Co 5.21; I Pd 2.24
D. O Alcance de Sua Morte
1. A expiação é suficiente para todos. Jo 1.29; I Tm 2.6; 4.10; Hb 2.9; I Jo 2.2
2. É eficiente para a salvação de todos que crêem. Jo 1.12
3. É eficiente para o juízo dos incrédulos. Jo 3.18; 16.9
A morte de Cristo possibilitou a reconciliação de todas as coisas, nos céus e sobre a terra. (Cl 1.19-20).

A Ressurreição
Cristo ressuscitou com muitas provas incontestáveis e infalíveis, este ensino é imprescindível para todo aquele que tem fé em Jesus, pois sem ela não há razão para nossa fé (I Co 15.3-8). Só alguém que fosse verdadeiramente Deus poderia ressuscitar.
A morte de Cristo foi um ponto baixo de sua humilhação a ressurreição foi o ponto alto de sua exaltação. Portanto, ela foi corpórea e singular, manifestada de forma gloriosa. I Co 15; Mt 28.5,8-9; Jo 20.1-10,19,26-29; At 1.1-3;
A ressurreição possibilitou a vitória sobre o pecado e a morte, e resultou em transformação de vida naqueles que creram.

Sua Ascensão
Cristo ascendeu aos céus em seu corpo de ressurreição, foi testemunhado pelos irmãos antepentecostais e é um ensino claro das Escrituras. Lc 24.50-51; At 1.6-11; Além de Cristo tê-la predito. Jo 6.62; 20.17
A exaltação de Cristo segue-se a sua ascensão embora sejam dois ensinos separados estão intimamente ligados. Na exaltação Cristo assumiu sua glória total. Fl 2.9-11; 3.21; Hb 2.9; Ap 1.12-18. E subindo ao alto levou cativo o cativeiro. Ef 4.7-10.

Sua Volta
Cristo prometeu voltar para buscar os Seus. Jo 14.1-3; Mt 24.44; Lc 12.40; 18.8 – Mais detalhes serão tratados no módulo Escatologia, ou doutrina das últimas coisas.


Capítulo II
CRISTO NA HISTÓRIA

Poucos personagens históricos exerceram sobre a história uma influência comparável à de Jesus Cristo. Qualquer que seja a óptica religiosa, filosófica ou política que define sua imagem — a de Filho de Deus, a de moralista sonhador ou a de revolucionário —, o fato é que Jesus produziu uma das alterações mais profundas já ocorridas na civilização e levou a uma visão radicalmente nova do mundo e da humanidade.
Jesus Cristo, ou Jesus de Nazaré, nasceu em Belém da Judéia, provavelmente entre os anos 6 e 7 a.C. O aparente paradoxo se deve a um erro de datação atribuído ao monge Dionísio o Pequeno, encarregado pelo papa, no século V, de organizar um calendário. O dia 25 de dezembro foi fixado no ano 440 da era cristã como data do nascimento de Cristo com o fim de cristianizar a festa pagã realizada naquele dia.
Para os cristãos, Jesus Cristo é o filho de Deus e a segunda pessoa da Santíssima Trindade, que veio ao mundo para pregar o Evangelho, palavra de origem grega que significa boa-nova. Condenado à morte na cruz pelo governador romano Pôncio Pilatos, ressuscitou no terceiro dia e ascendeu aos céus, depois de haver deixado a seus discípulos a missão de difundir sua doutrina por todo o mundo, até a consumação dos séculos.

Fontes históricas
As referências históricas à existência de Jesus Cristo revelam diferenças segundo sua procedência seja cristã ou não cristã.
Fontes cristãs. O principal testemunho cristão sobre Jesus são os quatro evangelhos canônicos. Resumem, cada um a sua maneira, a catequese oral dos primeiros decênios do cristianismo sobre a pessoa, as palavras e as obras de Jesus. Relatam também as reações de seu povo: muitos acreditaram nele, outros não o compreenderam e o rejeitaram. Esses escritos básicos da fé cristã coincidem entre si e com muitos pontos do testemunho de outros historiadores da época.
Os quatro Evangelhos foram escritos originalmente em grego, se bem que o de Mateus pode provir de um texto anterior, em aramaico. Parece certo que os evangelhos sinópticos foram escritos antes do ano 70, e o de João em finais do século I. Neles fica manifesta a diferente personalidade de seus autores, embora tenham um ponto comum, pois, superpondo-se os quatro Evangelhos, neles se encontra uma "imagem única" na história: a do judeu que supera o judaísmo, a do homem que ultrapassa a humanidade e a do Homem-Deus, Jesus de Nazaré, protagonista e herói de uma narração que não é quádrupla mas única.
Os evangelhos canônicos não foram as únicas narrativas cristãs sobre a vida de Jesus. Escreveram-se muitas outras, não reconhecidas por nenhuma igreja cristã e de características geralmente mais fantásticas, agrupadas sob o nome de evangelhos apócrifos -- segundo a terminologia católica -- ou pseudo-apócrifos -- para os protestantes.
Fontes não-cristãs. Entre as fontes não-cristãs, destaca-se a do judeu Flávio Josefo, historiador da corte romana de Domiciano, que se referiu à morte de são João Batista em termos que coincidem substancialmente com o relato evangélico. Menciona também o martírio de Tiago, "irmão daquele Jesus que é chamado Cristo". Outras passagens de Flávio Josefo, que se referem também aos milagres e à ressurreição, devem-se provavelmente a uma interpolação cristã posterior.
O maior dos historiadores romanos, Tácito, também mencionou a figura de Cristo, ao referir-se ao incêndio de Roma. Nero, para desculpar-se, atribuiu o incêndio aos cristãos, cujo nome, afirma Tácito, "lhes vem de Cristo, o qual, sob o principado de Tibério, o procurador Pôncio Pilatos entregara ao suplício ...".
A tradição judaica recolhe também notícias acerca de Jesus. Assim, no Talmude de Jerusalém e no da Babilônia incluem-se dados que, evidentemente, contradizem a visão cristã, mas que confirmam a existência histórica de Jesus de Nazaré.

Vida de Jesus
O nome Jesus Cristo é composto da versão grega de dois nomes hebraicos: Jesus, de Joshua, que significa salvador; e Khristós, de Masiah, isto é, messias.
No tempo de Jesus, a nação judaica se encontrava numa situação de desgarramento e impotência. Situada numa zona de tensão entre os grandes impérios do mundo oriental, perdeu sua independência política desde o exílio da Babilônia, no fim do século VI a.C., e foi dominada por outros povos até que, depois de um breve período de independência, caiu em poder de Roma em 63 a.C. Com a morte de César, Herodes I o Grande conseguiu ser nomeado "rei dos judeus", sob protetorado romano. Seu reino foi dividido pelos romanos depois de sua morte, e Herodes Antipas ficou com a Galiléia e a Peréia. À época do nascimento de Jesus, a Galiléia era um conhecido foco da resistência judia contra Roma.
Nascimento e infância. Jesus nasceu em Belém, cidade da Judéia meridional, nos últimos anos do reinado de Herodes o Grande. Sua mãe Maria, era casada com José, carpinteiro de Nazaré, na Galiléia. Ambos haviam ido a Belém por causa de um recenseamento.
Herodes soube do nascimento de Jesus, considerado pelos magos como a chegada daquele que deveria ser o "rei dos judeus", ordenou uma matança de todas as crianças "em Belém e no seu território, todos os meninos de dois anos para baixo" (Mt 2:16). Mas José, pai terreno de Jesus, advertido em sonhos por um anjo, tomou o menino e sua mãe durante a noite e retirou-se para o Egito, onde permaneceu até a morte de Herodes.
Com a morte de Herodes o Grande, José decidiu regressar com sua família e estabeleceu-se em Nazaré. Essa pequena aldeia achava-se num entroncamento de caminhos e era cruzada pelas caravanas que viajavam para o Oriente. Nela cresceu Jesus junto a Maria e José, a quem ajudava em seu trabalho artesanal.
Com relação à chamada "vida oculta" de Jesus, a referência mais explícita é a de Lucas, que menciona a visita da família a Jerusalém quando Jesus tinha 12 anos. Julgando que o menino estivesse na caravana, seus pais voltaram e andaram durante todo o dia, até que se decidiram a voltar a Jerusalém. Depois de três dias de busca, encontraram-no entre os doutores do Templo, ouvindo-os e interrogando-os. Todos quantos o ouviam ficavam impressionados com sua inteligência. "Ao vê-lo, ficaram surpresos, e a mãe lhe disse: 'Meu filho, por que agiste assim conosco? Olha que teu pai e eu, aflitos, te procurávamos.' Ele respondeu: 'Por que me procuráveis? Não sabeis que devo estar na casa de meu Pai?" (Lc 2:48-49).
Quanto aos anos que mediaram entre esses acontecimentos e a vida pública de Jesus, o próprio Lucas limita-se a concluir: "Desceu então com eles para Nazaré, e era-lhes submisso. Sua mãe, porém, conservava a lembrança de todos estes fatos em seu coração. E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e diante dos homens." (Lc 2:52-53).
Vida pública. Costuma-se distinguir, na vida pública de Jesus, um primeiro período de "preparação". Os acontecimentos dessa época tiveram lugar no lapso compreendido entre o outono do ano 27, de acordo com os cálculos mais plausíveis, e a Páscoa do ano seguinte, e desenrolaram-se na Judéia e na Galiléia. Ainda de acordo com Lucas, Jesus tinha então cerca de trinta anos.
Na Judéia, encontrava-se João Batista, filho de Zacarias e parente de Jesus, que em toda a região do Jordão pregava o batismo de penitência para o perdão dos pecados. Jesus foi a seu encontro para também ser batizado, mas João, que o reconheceu como Messias, queria impedi-lo, dizendo: "Eu é que tenho necessidade de ser batizado por ti e tu vens a mim?" (Mt 3:14). Os três evangelhos sinópticos relatam que, no momento do batismo de Jesus, abriu-se o céu e desceu sobre Jesus o Espírito Santo sob a forma de uma pomba, ao mesmo tempo em que uma voz proveniente das alturas dizia: "Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo".
Dentro do período de preparação contam-se o jejum no deserto, durante quarenta dias e quarenta noites; o testemunho de João Batista aos sacerdotes vindos de Jerusalém: "No meio de vós está alguém que não conheceis, aquele que vem depois de mim, do qual não sou digno de desatar a correia da sandália." (Jo 1:26-27); e o episódio das bodas de Caná, primeira manifestação do poder divino de Jesus Cristo.
O primeiro ano da vida pública de Jesus foi assinalado por vários acontecimentos notáveis: a primeira expulsão dos mercadores do templo; o colóquio de Cristo com Nicodemos, notável fariseu, ao qual manifestou-se como Filho de Deus e anunciou sua morte na cruz; a prisão de João Batista; e o episódio da conversa com a mulher samaritana -- os judeus não se relacionavam com os samaritanos -- considerado pelos exegetas como um prenúncio da universalidade ecumênica do cristianismo.
Passou depois Jesus da Samaria à Galiléia, e ali deu começo a sua pregação. Rejeitado em Nazaré -- "nenhum profeta é bem recebido em sua pátria", disse Jesus na sinagoga --, transferiu-se para Cafarnaum, às margens do lago Tiberíades ou mar da Galiléia. Foi ali que aconteceu a "pesca milagrosa" e a vocação dos quatro primeiros apóstolos: Simão (Pedro), seu irmão André e os filhos de Zebedeu, Tiago e João. Esses quatro, mais Filipe e Natanael, haviam sido discípulos de João Batista, que lhes indicou Jesus como "o cordeiro de Deus" (Jo 1:29,35). Realizou nessa época vários milagres, entre eles o do paralítico de Cafarnaum, mencionado nos evangelhos sinópticos.
Durante o segundo ano de sua vida pública, Jesus completou o número dos 12 apóstolos, todos eles galileus. Também teve lugar por essa época o sermão da montanha ou das bem-aventuranças, um dos pontos mais altos da vida de Jesus (Mt 5-7; Lc 6). Nesse período foram narradas algumas das mais notáveis parábolas, com as quais Jesus transmitia sua doutrina ao povo, aos sacerdotes e a seus seguidores.
A partir de então, os acontecimentos se precipitaram. Herodes Antipas deu morte a João Batista, e teve lugar a multiplicação dos pães e dos peixes diante de cinco mil pessoas. Em seu terceiro ano de vida pública, Jesus ensinou no templo de Jerusalém e deu testemunho de si mesmo como a "luz do mundo" e o "bom pastor". Diante de Pedro, Tiago e de João, realizou o prodígio da transfiguração. Foi também nesse período que ressuscitou Lázaro e, por fim, na sua última Páscoa, entrou triunfante em Jerusalém.
Paixão e morte. A paixão de Jesus, desde a última ceia até a crucifixão e morte, é minuciosamente relatada pelos quatro evangelistas. Aprisionado no horto de Getsâmani, Jesus foi levado ante Anás, que era "pontífice naquele ano", e logo ante Caifás, o príncipe dos sacerdotes, com quem se haviam reunido os escribas e os anciões. Mais tarde, foi conduzido à residência do governador romano, Pôncio Pilatos, que o remeteu a Herodes Antipas. Por um gesto político de Herodes, foi devolvido a Pilatos, que, embora "não achasse delito nenhum" em Jesus, depois de fazê-lo açoitar, cedeu à pressão dos chefes de Israel e de uma multidão incitada por eles, e pronunciou a sentença da condenação de Jesus à morte na cruz, depois de declarar-se inocente de seu sangue.
De acordo com as leis romanas, Jesus foi flagelado e teve que carregar a cruz até a colina do Calvário. Ali foi crucificado junto com dois malfeitores comuns. Não se sabe o lugar exato em que se cumpriu a sentença, pois a destruição de Jerusalém no ano 70 arrasou todo possível vestígio. No momento da morte de Jesus, de seus seguidores só permaneciam mulheres e João, o evangelista. José de Arimatéia e Nicodemos pediram o corpo de Jesus e o enterraram no horto do primeiro. Na manhã do terceiro dia da morte de Jesus, o sepulcro apareceu vazio. Os relatos, diferentes em seus detalhes, coincidem em que a tumba foi encontrada vazia e que Jesus apareceu a várias pessoas e falou com elas. De acordo com Lucas, comeu um pedaço de peixe à vista dos discípulos assustados. Segundo os Atos dos Apóstolos, Jesus continuou assim a ensinar aos discípulos, em aparições ocasionais, durante quarenta dias após a ressurreição. Depois foi "elevado ao céu". Essa ascensão simboliza a vitória definitiva do Cristo sobre a morte, e seu poder universal. Não contradiz a promessa do ressuscitado: "E eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos." (Mt 28:20).
Mensagem e significado. Para os cristãos, Jesus é Deus feito carne, a personificação da verdade, a revelação e o cumprimento das promessas de Deus. Mas Jesus era também homem, e por isso seus ensinamentos eram dotados de uma profunda preocupação com a realidade temporal da humanidade. Assim, Jesus honrou como divina a lei contida no Antigo Testamento, mas ensinou aos discípulos que se concentrassem nos dois preceitos fundamentais: o amor a Deus e o amor ao próximo. Seu nascimento, morte e ressurreição significavam o início do reino de Deus, que deveria ser, acima de todo esforço humano, um desígnio divino. Assim, os ensinamentos de Jesus podem ser resumidos em dois pontos fundamentais: a exortação a uma vida justa e piedosa e a exaltação da onipotência divina como instância superior aos atos humanos.
A importância teológica da humanidade de Cristo foi enfatizada por santo Agostinho de diversas formas: a humanidade de Jesus Cristo mostrava como Deus elevava o humilde; indicava a conexão entre a natureza física dos homens e a natureza espiritual; e era a fundação de uma humanidade renascida, criada de novo em Cristo como o fora a antiga em Adão. Posteriormente, a tendência de diversas heresias a enfatizar o caráter humano de Cristo fez com que as diferentes igrejas cristãs tendessem sobretudo, sem esquecer o aspecto humano, a ressaltar a divindade de Jesus. Mas a fé em Jesus Cristo, Filho de Deus, implica a aceitação do mistério de sua dupla natureza, divina e humana, que não se confundem mas estão indissoluvelmente unidas.





Capítulo III
O SALVADOR DO MUNDO
Bispo Alexander (Mileant)

O Filho Unigênito e Encarnado de Deus, o Senhor Jesus Cristo, é o Salvador da humanidade. Pela vontade de Deus Pai e por piedade a nós, pecadores, Ele veio ao mundo tornando-se humano. Pela Sua palavra e pelo Seu exemplo passou a ensinar como era necessário crer e viver para tornar-se justo e digno do cognome de Filho de Deus, e fazer parte da Sua vida eterna, repleta de graças. Para nos purificar dos pecados e vencer a morte, Ele morreu na cruz e ressuscitou no terceiro dia. Agora, como Deus-homem, encontra-se nos céus, ao lado do Pai. Jesus Cristo é o chefe do Reino de Deus, por Ele criado, que é a Igreja, na qual se salvam os que crêem, guiados e fortalecidos pelo Espírito Santo. Antes do final do mundo, Jesus Cristo retornara à terra, para julgar os vivos e os mortos. Então virá o Seu Reinado de Glória, o paraíso, onde os redimidos alegrar-se-ão eternamente. Assim foi vaticinado e nós acreditamos que assim será.

Aguardando a Vinda do Messias
Evento magno na vida da humanidade é a vinda do Filho de Deus à Terra. Para isto, Deus preparou os homens, sobretudo o povo hebreu, no decorrer de vários milénios. Em meio a esse povo, Deus destacava profetas que prediziam a vinda do Salvador do Mundo - do Messias - e, com isso, introduziam as bases da crença Nele. Além do mais, Deus, no decorrer de muitas gerações, começando por Noé, a seguir por Abraão, Davi e outros homens justos, purificava aquele invólucro do qual o Messias deveria vir a encarnar. Afinal, foi assim que nasceu a Virgem Maria, que se tornou digna de ser a Mãe de Jesus Cristo.
Concomitantemente, Deus direcionava também a conjuntura política do velho mundo no sentido de que a vinda do Messias fosse auspiciosa e para que seu reino benfazejo se difundisse amplamente entre as pessoas. Desse modo, à época da vinda do Messias, vários povos pagãos entraram na composição de uma só nação - a do Império Romano. Este fato possibilitou aos discípulos de Cristo viajarem sem empecilhos por todos os países do vasto império romano. A ampla difusão da língua grega, largamente falada, favorecia as comunidades cristãs esparramadas por territórios distantes, no sentido de manterem contato entre si. Os Evangelhos e as epístolas apostólicas foram escritos em grego. Em decorrência da aproximação de culturas de diferentes povos, bem como do desenvolvimento da ciência e da filosofia, a crença nas divindades pagãs foi muito abalada. Os homens passaram a ansiar por respostas satisfatórias às suas indagações religiosas. Cabeças pensantes do mundo pagão entendiam que a sociedade chegava a um beco sem saída e passaram a exprimir suas esperanças no sentido da vinda do Transformador e Salvador da humanidade.

A Vida Terrena de Nosso Senhor Jesus Cristo
Para o nascimento do Messias, Deus escolheu a pura Virgem Maria, do ramo do rei Davi. Maria era órfã, criada pelo ancião José, seu parente distante, residente em Nazaré, uma das cidadezinhas do norte da Terra Santa. O Arcanjo Gabriel, aparecendo, informou à Virgem Maria sobre Sua escolha, por Deus, para vir a ser Mãe do Seu Filho. Quando a Virgem Maria concordou humildemente, o Espírito Santo desceu sobre Ela e Ela concebeu o Filho de Deus. O conseqüente nascimento de Jesus Cristo ocorreu em Belém, pequena cidade judaica, onde outrora nascera o rei Davi, ancestral de Cristo. (Os historiadores datam o nascimento de Jesus Cristo entre os anos 749-754 da fundação de Roma). A contagem d.C. inicia-se em 754, após a fundação de Roma.
A vida, os milagres e diálogos de Jesus Cristo acham-se relatados em quatro livros, chamados Evangelhos. Os três primeiros evangelistas, Mateus, Marcos e Lucas narram os acontecimentos da sua vida ocorridos sobretudo na Galiléia - localizada no norte da Terra Santa. O Evangelista João completa as narrativas com acontecimentos ocorridos nas terras de Jerusalém.
Até a idade de trinta anos, Jesus Cristo viveu com sua mãe, a Virgem Maria, na casa de José, em Nazaré. Com a idade de doze anos, dirigiu-se com os pais, a Jerusalém, para a festa da páscoa, passando três dias no templo, dialogando com os sábios. Sobre outras particularidades da vida do Salvador, em Nazaré, nada se sabe, além do fato de que auxiliara José, no ofício da carpintaria. Como pessoa, Jesus Cristo cresceu e desenvolveu-se como os demais seres humanos.
No trigésimo ano de vida recebeu o batismo do Profeta João, no rio Jordão. Antes de iniciar sua vida pública, dirigiu-se para o deserto onde jejuou durante quarenta dias, sendo tentado pelo demônio. Jesus iniciou sua vida pública na Galiléia, escolhendo doze apóstolos. O milagre da transformação da água em vinho, realizado por Jesus Cristo, nas bodas de Caná, na Galiléia, fortaleceu a fé dos Seus discípulos. Após passar algum tempo em Cafarnaum, dirigiu-se a Jerusalém, para a festa da Páscoa. Ali, pela primeira vez, despertou a ira contra si dos sacerdotes hebreus e sobretudo dos fariseus, quando enxotou os vendedores do templo. Após a Páscoa, Jesus Cristo reuniu seus apóstolos, os instruiu e os enviou para apregoar a aproximação do Reino de Deus. Ele próprio peregrinou pela Terra Santa, pregando, reunindo discípulos e divulgando ensinamentos sobre o Reino de Deus.
Jesus Cristo demonstrou Sua origem Divina com muitos milagres e profecias. As forças da natureza Lhe obedeciam. Por exemplo: ao seu comando, a tempestade cessou; caminhou sobre as águas como em terra firme; multiplicando cinco pães e alguns peixes, alimentou enorme multidão; transformou água em vinho. Ressuscitava mortos, exorcizava demônios e curava enfermos. Jesus Cristo sempre evitou a glória dos homens. Para Suas necessidades, Jesus Cristo jamais recorreu ao Seu infinito poder. Todos os seus milagres acham-se transpassados por profunda comiseração para com os homens. Seu milagre supremo foi a Sua própria ressurreição dos mortos. Com a ressurreição, subjugou o poder da morte e deu início a nossa ressurreição dos mortos, que ocorrerá ao final dos tempos.
Os evangelistas relataram muitas profecias de Jesus Cristo. Várias delas concretizaram-se ainda no tempo dos apóstolos. Dentre elas constam a profecia da negação de Pedro, a traição de Judas, a crucificação e a ressurreição de Cristo, o Pentecostes, os milagres realizados pelos apóstolos, as perseguições pela fé, a queda de Jerusalém e outros. Algumas profecias de Cristo, referentes ao fim dos tempos, começam a se realizar, por exemplo: a divulgação do Evangelho em todo o mundo, a depravação, a perda da fé, as terríveis guerras, os terremotos etc. Algumas profecias, como a ressurreição dos mortos, a Segunda vinda de Cristo, o fim do mundo e o juízo final estão ainda por ocorrer.
Com Seu poder sobre a natureza e Seu conhecimento sobre o futuro, Jesus Cristo comprovou a verdade sobre seus ensinamentos, bem como que é verdadeiramente o Filho Unigênito de Deus.
A vida pública de Jesus Cristo durou cerca de três anos. Os sacerdotes, os sábios do templo e os fariseus não aceitaram os seus ensinamentos e, invejosos de seus milagres e progressos, buscavam uma oportunidade para matá-lo. Enfim, ela se apresentou. Após o Salvador Ter ressuscitado Lázaro, seis dias antes da Páscoa, cercado e aclamado pelo povo, como filho de Davi e rei dos judeus, adentrou na cidade de Jerusalém. O povo Lhe fazia reverências. Jesus Cristo dirigiu-se diretamente ao templo, mas vendo que os sumo sacerdotes transformaram a casa de oração em antro de marginais, expulsou todos os vendilhões do templo. Isto despertou a ira dos sacerdotes e fariseus e eles decidiram acabar com Ele. Enquanto isso, Jesus Cristo ensinava o povo no templo. Na quarta-feira, um de seus apóstolos, Judas Iscariotes, ofereceu aos membros do Sinédrio trair seu Mestre por trinta moedas de prata. Esta oferta foi muito bem recebida pelos sumo sacerdotes.
Na quinta-feira Jesus Cristo desejando comemorar a Páscoa com seus discípulos, dirigiu-se de Betânia para Jerusalém, onde Pedro e João prepararam o recinto para a comemoração. Chegando ao anoitecer, Jesus Cristo deu um grande exemplo de humildade, lavando os pés de seus discípulos, coisa que pela tradição judaica era tarefa dos servos. Depois, sentando-se com eles, comemoraram a Páscoa do Velho Testamento. Depois, Ele definiu a Páscoa do Novo Testamento - a Eucaristia. Tomou o pão, deu graças e distribuiu aos seus discípulos, dizendo: "Tomai e comei: Este é Meu corpo, que é dado por vós." Depois tomou o cálice e deu-lhes, dizendo: "Bebei dele todos: Isto é Meu sangue, símbolo da nova aliança, que é derramado por muitos, pela remissão dos pecados." Depois disto, conversou pela última vez sobre o Reino de Deus com seus discípulos. Em seguida, acompanhado de três discípulos - Pedro, Tiago e João, dirigiu-se a um lugar chamado Getsêmani, onde rezou até transpirar sangue, sabedor do cálice que estava por receber.
Então chegou Judas, acompanhado de um bando armado enviado pelos sumo sacerdotes. Judas traiu seu mestre com um beijo. Enquanto Caifás reunia o conselho, os soldados levaram Jesus à casa do sumo sacerdote; dali Ele foi levado à presença de Caifás, onde tarde da noite realizou-se o Seu julgamento. Apesar de terem sido convocadas várias testemunhas, ninguém pode atestar algo que desse causa à sua condenação à morte. Então, quando Jesus Cristo afirmou ser Filho de Deus e o próprio Messias, foi acusado de blasfemo, o que deveria ser punido com a pena capital.
Na sexta-feira pela manhã, os sumo sacerdotes, juntamente com os membros do conselho, dirigiram-se ao procurador romano Pilatos, para que este confirmasse a sentença. Inicialmente, Pilatos não concordou, pois não viu culpa em Jesus. Então os judeus começaram a ameaçá-lo dizendo que iriam denunciá-lo a Roma, e então Pilatos confirmou a sentença. Jesus foi entregue aos soldados romanos. Perto das 12 horas, juntamente com dois bandidos, Jesus foi levado ao Gólgota - um pequeno monte na parte ocidental dos muros de Jerusalém - e lá foi crucificado. Resignadamente aceitou Ele esta condenação. Era meio dia. Repentinamente o sol escureceu, e por três horas as trevas cobriram a terra. Depois disto, Jesus bradou ao Pai: "Meu Deus, Meu Deus, por que Me abandonaste?." Depois, vendo que tudo o que havia sido profetizado no antigo testamento se passou Ele disse: "Está tudo consumado! Pai, em Tuas mãos! entrego o meu espírito.." Seguiram-se vários fenômenos. O véu do templo rasgou-se de alto a baixo em duas partes e a terra tremeu. Vendo isso, até o centurião exclamou: "Verdadeiramente Este era o Filho de Deus."
Ninguém teve dúvidas quanto à morte de Jesus. Dois membros do conselho, José e Nicodemos, que também secretamente eram discípulos de Jesus, receberam autorização de Pilatos para tirar o corpo de Jesus morto e sepultá-lo num sepulcro de propriedade de José, próximo do Gólgota. Os membros do Sinédrio tomaram todas as providências para que o corpo de Jesus não fosse roubado por seus discípulos, fechando a entrada do sepulcro e designando uma escolta para vigiar o mesmo. Tudo foi feito às pressas, já que, naquela noite, iniciava-se a festa da Páscoa.
No Domingo (provavelmente 8 de abril), terceiro dia após Sua morte na cruz, Jesus Cristo ressuscitou dos mortos e abandonou o sepulcro. Depois disto, um anjo enviado do céu removeu a pedra da entrada do sepulcro. As primeiras testemunhas disto foram os soldados que vigiavam o sepulcro. Apesar deles não terem visto a ressurreição de Cristo, eles testemunharam que quando o anjo removeu a pedra o sepulcro já estava vazio. Assustados com a visão do anjo, os soldados correram. Maria Madalena e outras mulheres que estavam com ela foram ao sepulcro para ungir o corpo do seu Senhor e Mestre e encontraram o mesmo vazio. Elas tiveram a honra de ver o próprio Salvador Ressuscitado e ouvir dele: "Regozijem-se!" Além de Maria Madalena, Jesus apareceu para vários de seus apóstolos em diversas ocasiões. Em algumas destas ocasiões os discípulos puderam inclusive tocar o corpo Dele para certificarem-se que não se tratava de uma mera visão. No período de quarenta dias Jesus conversou com seus apóstolos várias vezes, deixando seus últimos ensinamentos.
No quadragésimo dia, Jesus Cristo ascendeu aos céus na presença de todos seus discípulos. De acordo com nossa crença, Jesus Cristo está sentado à direita de Deus Pai, ou seja, possui com Ele um só poder. Ele retornará antes do fim dos tempos para julgar os vivos e os mortos, após o que terá início o Seu Glorioso e Eterno Reino, onde os justos resplandecerão como o sol.


Da Aparência de Nosso Senhor Jesus Cristo
Os Santos Apóstolos, quando escreveram a vida e os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, não citaram quaisquer características sobre sua aparência. Para eles, o importante era fixar os seus ensinamentos.
Na Igreja Oriental existe a crença sobre o ícone do rosto do Salvador. De acordo com ela, o artista enviado pelo rei Avgar tentou várias vezes, sem sucesso, retratar a face de Jesus. Então Jesus chamou o artista, pegou sua tela e ao encostá-la contra Sua face, nesta ficou impressa a Sua imagem. Tendo recebido esta imagem de seu artista, o rei Avgar curou-se de lepra. A partir daí, esta milagrosa imagem do Salvador tornou-se famosa na Igreja Oriental e dela se faziam várias cópias. Existem registros sobre a imagem original em relatos do historiador armênio Moisés Xorenski, do historiador grego Evaghi e de São João Damasceno.
Na Igreja Ocidental existe a crença da imagem de Santa Verônica, a qual teria dado um pano a Jesus quando Este se dirigia ao Gólgota, para que Ele limpasse o suor de Seu rosto. Neste pano teria ficado a imagem de Seu rosto e, posteriormente, este pano teria sido levado ao Ocidente.
Na Igreja Ortodoxa é hábito representar o Salvador em ícones e afrescos. Estas representações não têm por objetivo retratar fielmente a Sua aparência. Elas servem para lembrar, simbolicamente, elevando nosso pensamento para Aquele que está representado. Visualizando a imagem do Salvador, tencionam lembrar-se de Sua vida, de Sua paixão, de Seus milagres e ensinamentos.
A imagem do Salvador também está registrada no "Sudário de Turim." Um lençol que teria servido de mortalha para o corpo de Jesus retirado da Cruz. Visualizar a imagem registrada no Sudário se tornou possível em tempos relativamente recentes, com o auxílio da fotografia e da tecnologia dos computadores. As imagens obtidas com estas tecnologias possuem uma espantosa semelhança com alguns antigos ícones bizantinos (estas semelhanças, às vezes, atingem 45 ou até 60 pontos, o que na opinião dos especialistas não pode ser considerado casualidade). Estudando o Sudário de Turim os especialistas concluíram que nele está a imagem em negativo de um homem de cerca de 30 anos, com uma altura de 1,81cm e de grande complexão física (o que é muito mais que a média de seus contemporâneos).

Ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo quanto À Fé e ao Modo Cristão de Viver
Sobre seus ensinamentos, Jesus Cristo diz: "Para isto eu nasci e vim ao mundo, para dar testemunho da verdade; todo o que está pela verdade, ouve a minha voz" (João 18:37). Por isso nós devemos considerar cada palavra de Jesus como Verdade e baseado nesta verdade orientar a nossa conduta.
Jesus Cristo ensinou que Ele é o Salvador do gênero humano. "O Filho do Homem veio salvar o que se tinha perdido...para servir e para dar a sua vida em resgate de muitos" (Mateus 18:11; 20:28). O Filho de Deus assumiu a missão de salvar os Homens, obedecendo a vontade de Seu Pai, o qual "amou de tal modo o mundo, que lhe deu Seu Filho Unigênito para que todo o que crê Nele não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3:16).
Jesus Cristo ensinou que Ele possui uma única natureza com Deus Pai ("Eu e o Pai - somos Um"), que Ele "desceu dos céus" e "está nos Céus" ao mesmo tempo, isto é, Ele coexiste na terra como homem e no céu como Filho de Deus, sendo Deus-Homem (João 3:13; João 10:30). Por isto, todos devem honrar o Filho, do mesmo modo que honram ao Pai. Quem não honra ao Filho, não honra ao Pai que O enviou (João 5:23). A verdadeira natureza divina foi professada por Jesus Cristo antes de Seu martírio na cruz, perante o Sinédrio, dando causa à sua condenação. Os membros do conselho assim comunicaram a Pilatos sua decisão: "Nós temos uma lei e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque se fez Filho de Deus" (João 19:7).
Afastando-se de Deus, as pessoas confundiram-se em suas crenças sobre o Criador, sobre Sua natureza imortal, sobre o objetivo desta vida, sobre o bem e o mal. Jesus Cristo revela ao homem os pilares da fé e da vida, orienta seu pensamento e sua conduta. Tendo Jesus como fundamento, os apóstolos escrevem: "E percorria Jesus todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas deles e pregando o Evangelho do Reino" (Mateus 9:35), divulgando a chegada do Reino de Deus entre os homens. Freqüentemente Jesus Cristo iniciava seus ensinamentos com as palavras: "O Reino de Deus se assemelha...." Daí, devemos concluir que, pela vontade de Jesus, o gênero humano é chamado a buscar a salvação não individualmente, mas de modo coletivo, como uma única família espiritual, usufruindo dos meios por Ele deixados à Igreja. Pode-se definir estes meios em duas palavras: a graça e a verdade. Graça - força invisível vinda do Espírito Santo, que ilumina a mente do homem, orientando sua vontade para o bem, fortificando suas forças espirituais, trazendo-lhe a paz interior e a felicidade, santificando todo o seu ser.
Falando sobre salvação, Jesus ensinava sobre as condições necessárias para que o indivíduo fosse admitido em Seu reino, o modus vivendi e os objetivos cristãos, bem como sobre a natureza de Seu reino. Vamos agora tratar destes ensinamentos:

Como Entrar no Reino de Deus?
O primeiro passo desta jornada é Ter Fé em Jesus Cristo, como o enviado de Deus para salvar o mundo - aceitar que Ele é o caminho, a verdade e a vida, e que ninguém vai ao Pai senão por Ele. Quando perguntado pelos judeus sobre o que eles deveriam fazer para agradar a Deus, Jesus respondeu: "...creiais Naquele que Ele enviou" (João 6:29). "Aquele que crê no Filho terá a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece" (João, 3:36). Nossa crença em Jesus Cristo deve ser não somente a aceitação Dele como Filho de Deus, mas deve ser como a fé das crianças em seus pais - devemos simplesmente aceitar, de todo coração, os Seus ensinamentos - sem qualquer interpretação ou dúvida. É uma fé assim que Deus espera de nós. "Se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no Reino dos Céus" (Mateus 18:3). Esta fé sincera no Salvador ilumina o discernimento humano, conduzindo toda sua existência pela promessa do Salvador: "Eu sou a luz do mundo, aquele que Me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida" (João 8:12).
Atraindo as pessoas para Seu reino, Jesus convida-os a seguir uma vida digna dizendo: "Arrependei-vos, pois é chegado o reino dos céus" (Mateus 4:17). Arrepender-se, quer dizer reconhecer todas as suas faltas, modificar seu modo de vida e, com a ajuda de Deus, iniciar uma nova vida fundada no amor a Deus e ao próximo.
Porém, para iniciar uma nova vida não basta a vontade, é fundamental a ajuda de Deus, a qual é dada ao crente pelo Santo Batismo. Pelo Batismo são perdoados todos os pecados do indivíduo, ele nasce para uma vida espiritual e torna-se membro do Reino de Deus. Sobre o Batismo, disse Jesus: "em verdade vos digo, aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne, é carne e o que nasceu do espírito é o espírito" (João 3:5-6). Posteriormente, mandando seus discípulos pregar, Disse-lhes: "Ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que Eu vos tenho ensinado" (Mateus 28:18). Quem crer e batizar-se será salvo, mas quem não crer será condenado (Marcos 16:10). As palavras "todas as coisas que vos tenho ensinado" confirmam o valor dos ensinamentos de nosso Salvador, que são essenciais para nossa salvação.

Vida Cristã
Nas "bem-aventuranças" (Mateus cap. 5) Jesus traçou o perfil de uma vida cristã. Ela deve ser fundada na humildade, arrependimento, caridade, pureza de sentimentos, paz e na crença em Deus. Com as palavras "Bem-aventurados os pobres de espírito, pois deles é o reino dos céus" Jesus chama o homem à humildade, o reconhecimento de sua pecaminosidade e de sua fraqueza espiritual.
A humildade é a base da salvação do gênero humano. Da humildade deriva o arrependimento - o reconhecimento de suas faltas, e "Bem-aventurados os que choram, pois eles serão consolados" - receberão o perdão e a paz de espírito. Obtendo a paz de espírito, o indivíduo torna-se pacífico e amante da paz. "Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra." Receberão aquilo que nos é tirado por indivíduos agressivos e ímpios. Purificando-se pelo arrependimento, o homem tem necessidade da verdade e da caridade. "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois eles serão saciados," ou seja, com a ajuda de Deus eles a receberão. Sentindo a graça de Deus em si, o indivíduo começa a percebê-la em seus semelhantes. "Bem aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia." O misericordioso purifica-se do pecaminoso sentimento de avareza pelos bens materiais, quando é tocado pelo amor de Deus, como um raio de luz solar atinge o fundo de um lago de águas plácidas. "Bem-aventurados os limpos de coração, pois eles verão a Deus." Esta luz dá ao homem a sabedoria necessária para conduzir espiritualmente seus próximos, deixando-os em paz consigo mesmos, com seu próximo e com seu Criador. "Bem-aventurados os pacificadores porque eles serão chamados filhos de Deus." O mundo ímpio não suporta a conduta dos justos e levanta-se contra eles. Mas nada deve-se temer, pois "Bem-aventurados os que sofrem perseguição em nome da justiça, porque deles é o reino dos céus."
No sermão da montanha (Mateus 5 a 7), Jesus nos ensina a não sermos vingativos, a vencer a ira, a sermos justos, sábios, a perdoar nossos inimigos, a buscarmos o sentimento de verdade que existe em nosso coração; explica como devemos dar esmolas, jejuar e orar, para que estas obras sejam aceitas perante Deus. A seguir, chama-nos a confiar em Deus e a não julgar nosso próximo e a praticar a caridade constantemente.
Cristo ensinava que não devemos nos afeiçoar aos bens terrenos, pois "de que vale ao homem conquistar todos os tesouros da terra e perder sua alma" (Marcos 8:36-37); pois a pessoa que se dedica ao enriquecimento material acaba afastando-se de Deus, pois "onde estão teus tesouros, lá está teu coração" (Lucas 12:34). Estar em comunhão espiritual com Deus: esta é a maior graça que podemos ter. Por isto Cristo diz: "Buscai primeiro o reino dos céus e a sua justiça e todas estas coisas serão acrescidas." Falando sobre o valor espiritual do reino de Deus, Jesus Cristo, em uma de suas parábolas, comparou-o à uma pérola, pela qual um esperto mercador vendeu todos os seus bens para poder adquiri-la (Mateus 13:45-46).
A salvação da alma deve ser a principal preocupação do homem. O caminho da purificação espiritual costuma ser árduo. Por isso, "Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição e muitos são os que entram por ela" (Mateus 7:13-14). As provações terrenas devem ser aceitas com resignação pelo homem como sua cruz: "Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-me" (Mateus 16:24), em realidade, "o reino dos Céus adquire-se à força e os que se esforçam apoderam-se Dele (Mateus, 11:12). É de fundamental importância invocar a ajuda de Deus para que nos auxilie e nos ilumine nesta jornada: "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito na verdade, está pronto, mas a carne é fraca... na vossa paciência salvai vossas almas" (Marcos 14:38; Lucas 21:19).
Tendo vindo ao mundo em função de Seu infinito amor por nós, o Filho de Deus ensinava seus seguidores a colocar o amor como fundamento de sua vida, dizendo: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento; e o segundo, semelhante a este é: Amarás teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos depende toda a lei e os profetas" (Mateus 22:37-39). O Meu mandamento é este: "Que vos ameis uns aos outros, assim como Eu vos amei" (João 15:12).
O amor ao próximo deve ser externado pela caridade: "Quero misericórdia e não sacrifícios." Falando sobre a cruz, o sofrimento e o caminho estreito, Cristo nos fortalece com sua promessa: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, que Sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve" (Mateus 11:28-30). Tanto as bem-aventuranças quanto todos os ensinamentos do Salvador são cheios de fé na vitória do bem sobre o mal e na alegria do reino de Deus. "Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus" (Mateus 5:12). "Eu estarei com vocês até o fim dos tempos" (Mateus 28:20), e promete que todo aquele que crê Nele não perecerá, mas receberá a vida eterna (João 3:15).

A natureza do Reino de Deus
Para esclarecer seus ensinamentos sobre o Reino de Deus, Jesus Cristo utilizava-se de exemplos da vida real, parábolas. Comparou o Reino de Deus a uma criação de ovelhas, que vivem em lugar tranqüilo e em segurança, sendo apascentadas por um bondoso pastor, o Cristo.
"Eu sou o Bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das Minhas sou conhecido... O Bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas...Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a Minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor... Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de Mim, mas Eu de Mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi do meu Pai" (João 10).
Nesta comparação do Reino de Deus a um rebanho de ovelhas, frisa-se a unidade da Igreja. Uma grande quantidade de ovelhas estão num cercado, possuem a mesma fé e o mesmo modo de vida. Todas têm o mesmo Pastor - Cristo. Sobre a unidade dos fiéis, Jesus Cristo rogou ao Pai antes de seu martírio, dizendo: "Para que todos sejam um, como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu em Ti, que também eles sejam um em Nós" (João 17:21). O princípio unificador do Reino de Deus é o amor do Pastor para com as ovelhas e vice-versa. O amor para com Cristo é expresso na obediência para com Ele, na ânsia de viver segundo Sua vontade. "Se Me amais, segui os Meus mandamentos: o amor mútuo entre os que crêem é a maior sintonia do Reino de Deus" (João 14:15). "Nisto todos conhecerão que sois Meus discípulos, se vos amardes uns aos outros" (João 13:35). A graça e a verdade são os dois tesouros que o Senhor levou à Sua Igreja, constituindo-se em suas características essenciais básicas (João 1:17).
O Senhor prometeu aos apóstolos que o Espírito Santo conservará em Sua Igreja, até o fim dos tempos, o ensino verdadeiro, sem desvios. "E eu rogarei ao Pai e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre. O Espírito da Verdade, O Qual o mundo não pode conter... Ele os instruirá de toda a verdade" (João 14:16-17). Acreditamos, desta maneira, que as bênçãos benfazejas do Espírito Santo permanecem na Igreja, transmitindo-se até o final dos tempos, revivificando seus membros e saciando sua sede espiritual: "Aquele que beber da água que Eu lhe der nunca terá sede, porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte d'água que salte para a vida eterna" (João 4:14).
Assim Ele disse aos discípulos: "Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós, e havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo" (João 20:21,22). Aos pastores da Igreja Ele incumbiu de ensinar aos fiéis. Os pastores devem seguir ao Pastor Supremo no seu amor para com as ovelhas; já as ovelhas devem respeitar seus pastores, seguir seus ensinamentos, de acordo com as palavras de Jesus: "Quem vos ouve a vós, a Mim Me ouve, e quem vos rejeita a vós, a Mim Me rejeita" (Lucas 10:16).
O ser humano não se torna um justo imediatamente. Na parábola da Cizânia (Mateus, 13:24), Cristo explica que tal qual as ervas daninhas crescem em meio ao trigo num campo semeado, também entre os dignos membros da Igreja, encontram-se membros indignos. Alguns pecam por ignorância, inexperiência ou fraqueza espiritual, mas arrependem-se de seus pecados e buscam corrigir-se; outros persistem nos seus erros, menosprezando a grande paciência Divina. O principal dissimulador de tentações e de todos os males entre os homens é o demônio. Falando sobre a Cizânia no Seu reino, o Senhor conclama todos a lutar contra as tentações e orar: "Perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do maligno."
“Àqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos" (João 20:23). O perdão dos pecados pressupõem que o pecador arrepende-se sinceramente de seus pecados e deseja corrigir-se. Porém o mal não será tolerado eternamente no Reino de Cristo. "Todo aquele que comete pecado é escravo do pecado; ora o servo não fica para sempre em casa, o Filho fica para sempre; se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres" (João 8:34-36). Aos indivíduos que persistem em seus pecados ou não se submetem aos ensinamentos de Cristo, Ele determinou sua exclusão do seio da Igreja. "Se não escutar a Igreja, considera-o como um gentio e publicano" (Mateus 18:17).
No Reino de Deus concretiza-se a verdadeira unidade dos crentes com Deus e de um com o outro. O princípio unificado da Igreja é a natureza Divina e humana de Cristo, da qual os crentes participam pela comunhão com Cristo, por meio da fé. O Espírito Santo habitará no coração do crente. "Nós (Pai, Filho e Espírito Santo) viremos para ele e nele faremos morada. Assim o Reino de Deus penetra no homem" (João 14:23, Lucas 17:21). Jesus frisava a importância da comunhão com as seguintes palavras: "Em verdade vos digo, que se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o Seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos; quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue tem a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia" (João 6:53-54). Sem a unidade com Cristo, o homem, tal qual um ramo quebrado, murcha espiritualmente, não sendo capaz de praticar boas obras: "Como o ramo de si mesmo não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em Mim. Eu sou a videira, vós os ramos; quem está em Mim, e Eu nele, esse dá muitos frutos porque sem Mim nada podeis fazer" (João 15:4-5).
Tendo ensinado a Seus discípulos a importância de manterem a unidade com Ele, o Senhor, na Quinta-Feira Santa, na véspera de Seu martírio, instituiu a cerimônia da Santa Ceia, ordenando-lhes: "Fazei isto em Minha memória" (Lucas 22:19).
Jesus Cristo contrapunha ao mundo afundado no mal, o Seu Reino benfazejo, dizendo aos seus discípulos: "Eu vos tirei deste mundo, isto é, apartei-os dele, e Meu Reino não é deste mundo" (João 15:19; 18:36). "O príncipe deste mundo é o demônio, que é um lobo ardiloso, assassino e pai da mentira. Porém os filhos do Reino não devem temer o príncipe das trevas ou a sua horda." "Agora o príncipe deste mundo será banido. Exultai, pois Eu venci o mundo" (João 16:33). O Reino de Cristo ficará até o final dos tempos e todos os esforços do demônio e de seus seguidores em destruir este Reino quebrar-se-ão qual as ondas contra o rochedo. Edificarei Minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mateus 16:18). Estas palavras nos garantem não apenas a existência física da Igreja até o fim dos tempos, mas também a manutenção de sua unidade espiritual, abundante de graça e de verdade.
Jesus Cristo ensinava com Sua palavra e com Sua conduta. Ele se constitui no mais perfeito exemplo de retidão. "Meu alimento é cumprir a vontade Daquele que Me enviou e realizar a Sua obra," dizia Jesus. E cada palavra, gesto ou atitude Sua estavam repletos do desejo de executar a obra do Pai. Ao nos familiarizarmos com a vida de Jesus narrada nos Evangelhos, nós vemos em Suas atitudes grandes exemplos de bondade. Com isso, devemos entender que podemos imitar Cristo apenas no que está ao alcance de seres mortais. Não podemos ousar reproduzir suas atitudes privativas de Ser Superior, como a onisciência, o que é impossível a nós, porém podemos e devemos seguir Seu exemplo de benfeitor. É exatamente em Cristo que o homem encontra a imagem viva do ideal para o qual Ele conclamava todos os homens, dizendo: "Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus" e "Se vós Me conhecêsseis a Mim, também conheceríeis a meu Pai" (Mateus 5:48 e João 14:7).
Assim, toda a vida e os ensinamentos do Salvador estavam direcionados para introduzir novos princípios espirituais na vida humana: a verdadeira fé, o amor vivo para com Deus e o próximo, a busca pela perfeição moral e pela santidade. Nestes princípios devemos edificar nossa visão de mundo e nossa vida.
A história do Cristianismo mostrou que nem todas as pessoas e povos são capazes de elevar-se aos altos princípios espirituais contidos no Evangelho. O crescimento do Cristianismo no mundo, por vezes, transcorria por caminhos espinhosos. Por vezes, o Evangelho era recebido pelas pessoas de modo superficial, sem o ânimo para uma conversão verdadeira; por vezes era negado e até se transformava em motivo de perseguição. Apesar disso, os elevados princípios de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, hoje característicos em todos os Estados Democráticos modernos, praticamente foram retirados dos Evangelhos. Todas as tentativas para substituir os princípios evangélicos por outros produzem conseqüências catastróficas. Para se convencer disto, basta olhar para os resultados atuais do materialismo e do ateísmo. Assim, os cristãos da atualidade, tendo diante de si uma experiência histórica riquíssima, devem entender com clareza que só nos ensinamentos do Salvador poderão encontrar a diretriz correta para a solução de seus problemas familiares e sociais.
Edificando a nossa vida nos mandamentos de Cristo, nós nos consolamos com a idéia de que o Reino de Deus será vitorioso, e na Terra Renovada iniciar-se-á a paz prometida, a justiça, a alegria e a vida eterna.

Da natureza divina de Cristo
A crença na divindade de Jesus Cristo constitui-se a base de todas as nossas convicções religiosas. Ela introduz em nós forças espirituais, inspira-nos a proceder com bondade, direciona nossos atos e desejos. Sem isto, o Cristianismo perde sua razão de ser, sua força inspiradora e transforma-se numa coleção de mitos antigos e promessas impossíveis.
Mas, com toda sua importância extraordinária, a Divindade de Cristo não é evidente. Alguns textos, nos Evangelhos, até parecem contradizê-la. Por isso, os que negam a Divindade de Jesus não encontram dificuldades no encontro de tais textos Bíblicos, que parecem basear seu ponto de vista no sentido de que Jesus Cristo tivesse sido simplesmente humano ou, quem sabe, anjo incorporado, e por isso não pode ser chamado de Deus, no sentido específico do termo. Assim, os opositores da crença da Divindade de Jesus Cristo baseiam-se no fato de que o próprio Cristo nunca Se chamou de Deus, concluindo erroneamente que semelhante nome Lhe foi atribuído mais tarde.
Pontos de vista opostos, quanto à natureza de Cristo, começam a surgir desde o início do Cristianismo. No século IV, coube à heresia ariana provocar extremas discussões e desentendimentos ao afirmar que Jesus Cristo só se dizia chamar Filho de Deus, sendo, por sua natureza, um anjo criado por Deus. O arianismo foi analisado a fundo no primeiro Concílio de Nicéia, ocorrido em 325, onde se condenou a heresia ariana e introduziu-se o Credo, usado até hoje pela Igreja, onde se expõem com exatidão o ensinamento correto sobre Jesus Cristo.
Nos dias atuais, a seita das Testemunhas de Jeová, trouxe das cinzas a heresia ariana banida e, na sua versão, afirma que Jesus seria o Arcanjo Miguel incorporado. O perigo dos ensinamentos da seita reside no fato que dispondo de ilimitados recursos materiais ela inunda o mundo com sua literatura e seus ensinamentos. Sua atividade missionária notadamente agressiva está sendo levada a termo na Rússia, atraindo para suas redes destruidoras milhares de pessoas confiantes.
Os russos ortodoxos encontram-se em perigo especial frente aos sermões sectários, uma vez que em sua maioria estão pouco familiarizados com as Sagradas Escrituras e desconhecem a maneira de defender sua fé. Por outro lado, os propagadores sectários aprendem muito bem os textos que lhes são favoráveis e têm a capacidade de envolver seus ouvintes com suas citações e textos bem decorados.
Embora as Sagradas Escrituras denominem Jesus Cristo de Filho de Deus, os que duvidam de Sua natureza Divina baseiam-se na afirmação de que as mesmas fontes também chamam de filhos de Deus a outros seres como, por exemplo os anjos e as pessoas. Para resolver esta questão, deve-se ter em conta o seguinte: falando de seres humanos bem como de anjos, as Sagradas Escrituras nunca empregam o singular e jamais denominam uma determinada pessoa ou um certo anjo de Filho de Deus, mas sempre usam o plural, no sentido coletivo: filhos de Deus. Fica sempre evidente ao leitor tratar-se aí não de filhos de Deus quanto à natureza e sim quanto à caridade de Deus, que os recebe em Seu seio; e eles são filhos não quanto à natureza e sim adotados (no caso, entender ao pé da letra a palavra "filhos" pode levar à conclusão absurda de que algumas pessoas, como os inimigos de Deus, denominados nas Escrituras como "filhos do demônio" possuem natureza diversa dos que crêem).
Só com relação a Jesus Cristo as Sagradas Escrituras empregam o singular, chamando-O de Filho de Deus, além do que somente a Ele aplica tais vocábulos determinativos, como Unigênito, Amado, Filho de Deus Vivo, Filho Verdadeiro ou Próprio . Isso quer dizer que ao contrário de nós, Jesus Cristo é Filho de Deus por Natureza. Ele é Filho no sentido exato da palavra. Por isso, os mórmons admitem um erro inadmissível quando afirmam que Jesus Cristo teve outros irmãos-deuses, como por exemplo: Lúcifer (Satanás) e vários outros. As Escrituras diferenciam rigidamente o Filho dos filhos. O Primeiro é Nascido, os demais criados.
O próprio início dos ensinamentos de Jesus Cristo foi precedido pelo testemunho de Deus Pai a respeito de Seu Filho, dizendo: "Este é o Meu Filho amado em quem Me comprazo" (Mateus 3:17). Mais tarde, no monte Tabor, Deus Pai repete essas palavras, acrescentando: "Escutai-O" (Mateus 17:5). Isso indica que os homens devem aceitar tudo o que é dito por Jesus como verdade plena e indiscutível.
Mas o que poderia ser replicado aos contestadores da Divindade de Cristo, quando o Próprio Jesus diz: "Meu Pai é superior a Mim" (João 14:28). "...sobre aquele dia e aquela hora (o fim do mundo) ninguém sabe, nem os anjos de Deus, nem o Filho, só o Pai... O Filho nada pode fazer caso não veja o Pai fazendo...Minha alma está entristecida até a morte...Seja feita a Tua vontade e não a Minha" (Lucas 22:42) e frases semelhantes onde Ele se coloca em segundo plano, sujeito ao Pai. Além disso, se Jesus Cristo realmente se considerava Deus, por que Ele próprio não revelou abertamente? Com isto, Ele teria eliminado todas as dúvidas relativas à Sua Natureza.
A finalidades deste artigo é auxiliar o ortodoxo a entender as questões supra apresentadas e fornecer subsídios para a defesa de fé na Divindade de Cristo.
Para entender porque o Senhor Jesus Cristo não divulgou aos quatro ventos Sua Divindade, tentaremos transportar-nos, em pensamento, à época e às condições em que Ele pregou. Imaginemos a reação das pessoas às palavras de um peregrino que afirmasse: "Eu sou Deus!" Sem dúvida, a turba riria Dele taxando-o de louco e os seguidores do judaísmo se apressariam em declará-lo perjuro e a exigir Sua morte. Quem sabe só os pagãos, que possuíam muitas divindades, poderiam aceitar semelhante declaração de modo mais sério que o dos judeus, entendendo-o, é claro, de acordo com suas convicções. A propósito, lembramos a reação dos pagãos frente aos milagres do Apóstolo Paulo, de como desejaram proclamá-lo como um de seus deuses e oferecer-lhe oferendas (Atos 14:11). Nos nossos dias, o pregador que se declare como sendo Deus será simplesmente ignorado ou desprezado. Em qualquer caso, a declaração direta do Salvador de Sua Divindade traria resultado oposto do necessário a ser atingido.
De fato, o Filho de Deus veio ao mundo não para impressionar seus contemporâneos com Seu poder absoluto ou sujeitar pelo poder da Sua Divindade, qual escravos; mas para convencê-los a desviar-se verdadeiramente dos pecados e começar a crer correta e dignamente. As pessoas tornaram-se muito desespiritualizadas e moralmente brutas a ponto de serem incapazes de entender corretamente a verdadeira Divindade de Cristo. Lembremos, segundo os Evangelhos, como era difícil para Cristo pregar entre os judeus. Quantas gozações teve de suportar dos "doutores da lei" que combatiam Suas palavras e desviavam da fé os homens simples. Por isso, a primeira providência de Jesus Cristo foi no sentido de convencer os indivíduos a se voltarem, arrependidos, para Deus e a negarem seus conceitos religiosos, introduzindo em seus corações as sementes da verdadeira fé. Dado o primeiro passo era necessário convertê-los ao novo e verdadeiro modo de viver, ensinar a perdoar, a ter piedade e a amar seus semelhantes.
Mudanças espirituais tão profundas não podiam ser atingidas por ameaças ou por milagres. De fato, quando Jesus Cristo, por meio de algum milagre demonstrava a Sua natureza Divina, só fazia nascer em meio aos judeus reações insanas quanto ao reino messiânico poderoso aqui na terra, no qual seriam senhores sobre os demais povos. Por isso, o Senhor Jesus Cristo foi obrigado a proibir a divulgação de Seus milagres. Para renovar espiritualmente as pessoas e torná-las inclinadas a aceitar a verdadeira fé, Cristo escolheu o caminho da palavra bondosa da inspiração e o exemplo pessoal. A partir do compadecimento para com as pessoas condenadas, decidiu compartilhar sua miséria, suas privações e seus males. Para curar suas feridas espirituais, tomou sobre Si os pecados humanos, lavando-os na cruz com Seu puríssimo sangue. Em geral, todo o problema de salvação do homem pecador, começando da Encarnação do Salvador e terminando pelos Seus padecimentos físicos, eram para Ele, questão de humilhação voluntária máxima. Nas palavras do apóstolo Paulo: "Cristo, sendo Ele de condição Divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniqüilou-Se a Si mesmo, assumindo a condição de servo e assemelhando-se aos homens" (Fil. 2:6-9).
O Profeta Isaías descreve do seguinte modo a imagem da auto humildade do Messias:
"Ele não tem beleza, nem formosura, e não tinha aparência do que era, e por isso não fizemos caso Dele. Êle era desprezado e o último dos homens, um homem de dores; e experimentado no sofrimento; e o seu rosto estava encoberto; era desprezado e por isso nenhum caso fizemos Dele. Verdadeiramente ele foi o que tomou sobre si as nossas fraquezas, e ele mesmo carregou com as nossas dores; e nós o reputamos como um leproso, e como um homem ferido por deus e humilhado. Mas foi ferido por causa de nossas iniqüidades, foi despedaçado por causa de nossos crimes; o castigo que nos devia trazer a paz, caiu sobre ele, e nós fomos sarados com as suas pisaduras. Todos nós andamos desgarrados como ovelhas, cada um se extraviou por seu caminho; e o Senhor carregou sobre ele a iniqüidade de todos nós. Foi oferecido em sacrifício porque ele mesmo quis, e não abriu a sua boca; como uma ovelha que é levada ao matadouro e como um cordeiro diante do tosquiador, guardou silencio e não abriu a sua boca... Quem contará a sua geração?" (Isaías 53:2-9).
Com estas palavras conclusivas o Profeta dirigi-se para a consciência daqueles que irão negar Seu Salvador, como que dizendo-lhes: vós dais as costas, soberbos, ao Jesus ofendido e peregrino, mas entendei que por vós, pecadores, Ele padece terrivelmente. Adentrai Sua beleza de alma e então, quem sabe podereis compreender que Ele veio do mundo superior.
Mas, humilhando-Se voluntariamente, o Senhor Jesus Cristo, ao mesmo tempo, aos poucos divulgava os segredos da Sua unidade com Deus Pai, aos que conseguiram elevar-se dos grosseiros conceitos da turba. Por exemplo, dizia à turba: "Eu e o Pai somos Um só; aquele que Me viu, viu ao Pai...o Pai está em Mim e Eu estou no Pai...tudo que é Meu é Teu (do Pai) e o que é Teu é Meu...Nós (Pai e Filho)viremos e faremos nossa morada nele..." (João 10:30, 14:10-23, 17:10).
Estas e outras expressões referem-se à Sua Natureza Divina.
Além do mais, o Senhor Jesus Cristo, paulatinamente revelava Seus atributos, que só podem ser características de Deus. Por exemplo, Ele denominava-Se Criador ao dizer: "Meu Pai cria até hoje e Eu crio" (João 5:17). É significativo que os judeus, tendo ouvido isto, entenderam-no de modo absolutamente correto e quiseram apedrejar Cristo pela blasfêmia, visto que "Ele não só deixava de guardar o Sábado, mas também dizia que Deus era Seu Pai, fazendo-se igual a Deus" (João 5:17-18). Não Se opondo à esta interpretação, o Senhor confirmou que eles O entenderam corretamente.
Noutras ocasiões, o Senhor Jesus Cristo denominava-Se eterno. Quando, por exemplo, os judeus O indagaram: "Quem és?"Jesus respondeu: "Existo desde a origem dos tempos" (João 8:25). E acrescentou: "Em verdade vos digo: antes de Abraão, Eu existo" (João 8:58). Convém notar que Jesus não disse: "Eu existia," como seria gramaticalmente correto dentro do contexto da fala, mas empregou o presente: "Eu existo," ou então, "Eu sou Existente." A profunda conotação desse vocábulo é evidente no original hebraico. Quando Moisés, junto ao arbusto não consumível pelo fogo, indagou Deus sobre qual era Seu nome, o Senhor respondeu: "Eu sou o Existente (em hebraico Jeová). Ou seja, a própria denominação "Existente" (Jeová) indica uma propriedade específica de Deus. Êle é aquele Que sempre existe, êle é eterno. Tendo chamado a Si mesmo de Existente (Jeová), Jesus Cristo usou o nome com o qual os judeus chamavam a Deus. Convém lembrar que o nome Jeová era tão venerado pelos judeus a ponto de empregarem apenas em ocasiões muito importantes e festivas, enquanto que na fala habitual usavam Senhor, Criador, o Supremo, o Bendito etc.
Após ressuscitar dos mortos, Jesus Cristo reiterou Sua eternidade, dizendo: "Eu sou alfa e ômega, o início e o fim; o Senhor que é, era e será, Onipotente" (Apoc. 1:8). Em outras ocasiões Ele se cognominou de Onisciente (sabedor de tudo), dizendo: "Como o Pai Me conhece, Eu também conheço o Pai" (João 10:15) Só Deus pode conhecer Sua natureza, na totalidade. O Senhor Jesus Cristo ainda chamava Sua natureza de onipresente, ao dizer: "Ninguém subiu ao céu, a não ser quem desceu dos céus, o Filho do Homem que ali permaneceu. Onde dois ou três se reuniram em Meu nome, lá Estou entre eles"(João 3:13; Mateus 18:20). Cristo empregou outra vez a forma "estou" mostrando que não só esteve ou estará nos céus, mas ali permanece constantemente.
E, partilhando com o Pai todas as Suas características Divinas: criação, eternidade, onisciência, onipresença etc Jesus Cristo deve ser considerado por todos igual ao Pai, também para ser honrado, por isso: "Todos devem honrar o Filho, como honram o Pai: quem não honra o Filho, também não honra o Pai, que O enviou" (João 5:23). Todo o exposto nos leva infalivelmente à verdade, que Jesus Cristo Realmente é verdadeiro Deus, igual ao Pai na essência.
Embora Jesus Cristo evitasse denominar-Se diretamente Deus, para não provocar na turba reações desnecessárias, Ele aprovava os capazes de elevarem-se até essa verdade. Por exemplo, quando o apóstolo Pedro na presença de outros apóstolos disse: "Tu és Cristo, Filho de Deus Vivo!." O Senhor recebeu sua confissão de fé, acrescentando que Pedro chegara a essa convicção não através da observação própria, mas graças a uma inspiração superior: "Bendito seja, Simeão, por não terem sido a carne e o sangue que te fizeram perceber isso, e sim Meu Pai, que se encontra nos céus" (Mateus 16:16-18). De modo semelhante, quando o apóstolo Tomé, até então em dúvida, viu diante de si o Salvador ressuscitado, exclamou: "Senhor meu e Deus meu" (João 20:28). Cristo não contestou esta denominação, mas recriminou-o um pouco pela sua demora em crer e disse: "Tu acreditaste por Ter-Me visto (ressuscitado). Benditos aqueles que não vêm e crêem" (João 20:29).
Lembremos, finalmente, que a própria condenação de Cristo para morrer na cruz foi provocada pelo reconhecimento oficial de Sua Divindade. Quando o sumo sacerdote Caifás, sob juramento, indagou a Cristo: "Diga-nos se És Cristo, Filho do Abençoado," Cristo respondeu: "Tu o disseste," empregando a forma corrente da resposta afirmativa (Mateus 26:63; Lucas 22:70; João 19:7).
Cabe esclarecer outra questão muito importante relacionado com esta: como Caifás, numerosos judeus e até os demônios poderiam atingir a idéia de que Messias seria o Filho de Deus? A única resposta possível é: das Antigas Escrituras. A Elas cabia preparar o terreno para essa crença. De fato, ainda o rei Davi, que viveu mil anos antes da vinda de Cristo, em três salmos, denomina o Messias como Deus (Salmos 2, 45 e 109). De modo mais claro ainda, essa verdade foi revelada por Isaías, que viveu 700 anos a.C. Predizendo o milagre da encarnação do Filho de Deus, Isaías afirma: "Uma Virgem conceberá e dará à luz um Filho, e o Seu nome será Emanuel" (Isaías 7:14). Emanuel significa "Deus está conosco." Um pouco mais adiante o Profeta revela com maior determinação as virtudes do Filho que irá nascer: "E Lhe darão estes nomes: Admirável Conselheiro, Deus Invencível, Pai Eterno, Príncipe da Paz" (Isaías 9:6). É impossível aplicar tais denominações a alguém outro, a não ser a Deus. Sobre a eternidade do Menino que viria a nascer, escreveu também o Profeta Miquéias: "E tu, Belém (chamada Efrata), tu és pequenina entre os milhares de Judá; mas de ti é que me há de sair (o Messias) Aquele que há de reinar em Israel, e cuja geração é desde o princípio, desde os dias da eternidade" (Miquéias 5:2).
O profeta Jeremias, que viveu cerca de 200 anos depois de Isaías denominava O Messias de "Senhor" (Jeremias 23:5; 33:16), subentendendo Aquele Senhor O Qual o enviou para pregar; já o discípulo de Jeremias, o Profeta Baruc, escreveu as seguintes palavras sobre o Messias, "Este é o nosso Deus e nenhum outro Lhe é comparável" (Baruque 3:36) "E depois disto estará presente na terra e estará entre os homens" (Baruque 3:38).
Eis porque os mais sensíveis entre os judeus, tendo indicações precisas nas Sagradas Escrituras, podem, sem titubear, reconhecer, em Cristo, o Verdadeiro Filho de Deus. Destaca-se que muito antes da vinda de Cristo, a piedosa Isabel saudou a Virgem Maria que estava aguardando o nascimento do Menino Deus com a seguinte saudação: "Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o Fruto do teu ventre. Donde me vem esta honra de vir a mim a Mãe do Meu Senhor?" (Lucas 1:42-43). É evidente que Isabel não poderia ter outro Senhor além daquele ao qual servira desde a infância. Conforme explicação do Apóstolo Lucas, Isabel disse isto por inspiração do Espírito Santo.
Convencendo-se de modo inabalável da Divindade de Cristo, os apóstolos pregavam sua fé Nele entre todos os povos. O evangelista João inicia seu evangelho com a declaração da natureza Divina de Jesus Cristo:
"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava em Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio em Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele, e nada do que foi feito, foi feito sem Ele. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.
Houve um homem enviado por Deus, cujo nome era João. Este veio para testemunhar, para que desse testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio Dele. Ele não era a luz; mas era para dar testemunho da luz. Era a luz verdadeira, que ilumina todo o homem que vem a este mundo. Estava no mundo, e o mundo foi feito por Ele, e o mundo não O conheceu. Veio para o que era Seu, e os seus não O receberam. Mas, a todos os que O receberam, deu-lhes o poder de ser tornarem filhos de Deus; àqueles que crêem no Seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós; e nós vimos a Sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade. João deu o testemunho dele e clamou dizendo: Este era Aquele de Quem eu disse: O Que há de vir depois de mim é mais do que eu, porque era antes de mim. E todos nós participamos da sua plenitude e recebemos graça sobre graça. Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. Ninguém jamais viu a Deus; O Filho Unigênito, que esta no seio do Pai, ele mesmo é que o deu a conhecer" (João 1:1-18).
A denominação do Filho de Deus como Verbo, mais que outros títulos, revelam a relação recíproca entre a Primeira e a Segunda pessoa da Santíssima Trindade: Deus Pai e Deus Filho. Efetivamente, a idéia e a palavra se diferenciam entre si, uma vez que a idéia permanece e a palavra é a expressão da idéia. Na verdade, ambos são inseparáveis. Não pode haver idéia sem palavra, nem palavra sem idéia. A idéia é como a palavra oculta e a palavra é a expressão da idéia. A idéia personificada na palavra dá às pessoas o conteúdo da idéia. Neste sentido, a idéia, sendo a princípio independente, é como o pai da palavra e a palavra é como o filho da idéia. Antes que haja a idéia, a palavra é impossível existir, e a palavra não provém de parte alguma que não seja somente da idéia e com a idéia se torna inseparável. Da mesma maneira, o Pai, a mais grandiosa e suprema idéia produziu de Si o Filho-Verbo, Seu primeiro Intérprete e Mensageiro (segundo São Dionísio, de Alexandria).
Os apóstolos falam com toda clareza, sobre a Divindade de Cristo: "Sabemos que o Filho de Deus veio e nos deu entendimento para conhecer o Deus verdadeiro e estejamos no seu verdadeiro Filho. Vivemos unidos ao que é verdadeiro, quer dizer, ao Seu Filho Jesus Cristo. Ele é o Deus verdadeiro e a vida eterna" dos Israelitas nasceu Cristo segundo a carne... Deus bendito por todos os séculos" (Rom. 9:5). "Aguardando a esperança bem-aventurada e a vinda gloriosa do grande Deus e Salvador nosso Jesus Cristo" (Tito 2-13). "Se (os judeus) a tivessem conhecido (sabedoria de Deus), nunca teriam crucificado o Senhor da glória" (1 Cor. 2:8). "Porque Nele (em Jesus) habita corporalmente toda a plenitude da Divindade" (Col. 2:9). "É grande o mistério da piedade - Deus se manifestou na carne." Sobre o Filho de Deus, Ele não é um ser, uma criatura, e sim Criador, pois é incomparavelmente superior que todas as coisas criadas por Ele, conforme o apóstolo Paulo demonstra, em detalhes, nos capítulos 1 e 2 de sua Epístola aos Hebreus. Os anjos são somente espíritos auxiliares.
É indispensável recordar que a denominação de Nosso Senhor Jesus Cristo como Deus, por Si mesmo fala da plenitude de Sua Divindade. "Deus," desde o ponto de vista lógico e filosófico, não pode ser de categoria inferior, Deus limitado. As virtudes da Natureza Divina não devem ser submetidas à condições e diminuições. Se é "Deus," então O é completamente e não parcialmente.
Somente graças à unidade de pessoas em Deus, podem-se reunir numa única oração os nomes do Filho e do Espírito Santo ao lado do nome do Pai. Por exemplo: "Ide (Seus discípulos) e ensinai a todas as nações, batizando em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo" (Mateus 28:19). "A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco" (2 Cor. 13:14). "Porque três são os que dão testemunho nos céus: o Pai, o Verbo e o Espírito Santo, e estes três são um"(1 João. 5:17). Aqui o apóstolo João diz que Estes três são Um: Um Só Ser.
Obs: É necessário diferenciar os conceitos Pessoa e Essência. O conceito de pessoa significa indivíduo, "eu," consciência. As células vivas do nosso organismo morrem, são substituídas por outras novas; porém a consciência, em toda a nossa vida, relaciona-se com o nosso "eu." O conceito de Essência fala da natureza. Em Deus, há uma Essência e três Pessoas. Por exemplo: o Deus Pai e o Deus Filho podem conversar Um com o Outro, tomar uma decisão conjunta. Um fala e o Outro responde. Cada Pessoa da Santíssima Trindade tem Suas virtudes individuais, portanto cada Pessoa se diferencia de outra Pessoa. No entanto, todas as Pessoas da Trindade têm a mesma Natureza Divina.
O Filho tem as mesmas virtudes Divinas do Pai e do Espírito Santo. A doutrina da Trindade nos propicia a vida eterna e os mistérios em Deus, o que na realidade é algo que não está ao alcance de nosso entendimento, mas ao mesmo tempo é indispensável para a verdadeira fé em Cristo.
Jesus Cristo é uma só pessoa, a pessoa do Filho de Deus, mas tem duas naturezas: a Natureza Divina e a natureza humana. Por sua essência Divina é igual ao Pai: eterno, todo poderoso, onipresente etc. Segundo a natureza humana adquirida por Ele, em tudo Se parece a nós. Êle cresceu, se desenvolveu, padeceu, alegrava-se, tinha duvidas etc. A natureza humana de Cristo incluía a alma e o corpo. A diferença consistiu que Sua natureza humana estava completamente livre da corrupção do pecado . Sendo Cristo ao mesmo tempo Deus e homem, as sagradas Escrituras falam sobre Ele às vezes como Deus e às vezes como homem. E mais ainda, às vezes a Cristo, como Deus, atribuem predicados humanos (1 Cor. 2:8), e às vezes como a um homem, atribuem Virtudes Divinas, não havendo, no entanto contradições, pois falava-se na mesma Pessoa.
Lendo com atenção os ensinamentos das Sagradas Escrituras sobre a Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, no Primeiro Concílio Ecumênico, para encerrar com as diversas interpretações da palavra "Filho de Deus" e a diminuição de sua Dignidade Divina, resolveram que os cristãos crêem:
"Em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos, Luz de Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado e não criado; consubstancial ao Pai, por Quem foram feitas todas as coisas."
Os arianos rechaçaram, com todo vigor, a palavra "consubstancial," porque seu significado não se pode interpretar em outro sentido que seja diferente do ortodoxo, isto é, que Jesus Cristo Se reconhece Deus verdadeiro, em tudo igual a Deus Pai. Por esta razão os bispos do Concílio insistiram que essa palavra estivesse no Credo (Símbolo de Fé).
Resumindo o que foi colocado acima, temos que dizer que a fé na Divindade de Cristo não se pode fixar em nossos corações com versículos e fórmulas. Aqui, há de se ter fé pessoal, a iniciativa da força de vontade. Como há quase dois mil anos, assim será até o fim do mundo: para muitos Jesus será pedra no caminho e rocha que os sucumbirá, para que sejam revelados os pensamentos de muitos corações (1 Pedro 2:7; e Luc. 2:35). Foi a vontade de Deus que por meio da relação com Cristo, se descubra a vontade de cada pessoa. E o que "foi escondido dos sabios e estudiosos, foi revelado a cada criança."
O objetivo deste artigo não é provar que Jesus é Deus. Isto não se pode provar, como muitas outras verdades da fé. O objetivo é ajudar ao cristão a entender a sua própria fé e contar com argumentos para defender suas crenças das heresias.
Então, Jesus Cristo é Deus ou homem? Ele é Deus-Homem. Nossa fé tem que fortalecer-se nesta crença.

APÊNDICE A
CRISTO DE GÊNESIS A APOCALIPSE
Gênesis Descendente da mulher
Êxodo Nosso Cordeiro Pascal
Levítico Nosso Sacrifício pelo pecado
Números Aquele que foi levantado para a nossa cura e redenção
Deuteronômio Verdadeiro Profeta
Josué Capitão da Salvação
Juízes Juiz e Libertador
Rute Nosso Parente Resgatador
Samuel, Reis e Cronicas Nosso Rei
Esdras e Neemias Nosso Restaurador
Ester Nosso Advogado
Jó Nosso Redentor que vive
Salmos Nosso Socorro e Alegria
Provérbios Sabedoria de Deus
Eclesiastes O Alvo Verdadeiro
Cantares de Salomão O Amado da nossa alma
Isaías O Messias que há de vir
Jeremias e Lamentações O Renovo da Justiça
Ezequiel O Filho do homem
Daniel A Pedra que esmiúça
Oséias Aquele que orienta o desviado
Joel O Restaurador
Amós Divino Lavrador
Obadias O nosso salvador
Jonas A nossa Ressurreicão e Vida
Miquéias A Testemunha contra as nações rebeldes
Naum A Fortaleza no dia da angústia
Habacuque O Deus da nossa salvação
Sofonias O Senhor Zeloso
Ageu O Desejado de todas as nações
Zacarias O Renovo da Justiça
Malaquias O Sol da Justiça
Mateus O Messias Prometido
Marco O Servo de Deus
Lucas O Filho do Homen
João O Filho de Deus
Atos O Senhor Redivivo
1 Corintios O Senhor Nosso
2 Corintios A nossa Suficiência
Gálatas O nosso Libertador do jugo da lei
Efésios O nosso Tudo em todos
Filipenses A nossa Alegria
Colossenses A nossa Vida
1 Tessalonicenses Aquele que há de vir
2 Tessalonicenses O Senhor que vai voltar
1 Timóteo O nosso Mestre
2 Timóteo O nosso Exemplo
Tito O nosso Modelo
Filemon O nosso Senhor e Mestre
Hebreus O nosso Intercessor junto ao trono de Deus
Tiago O nosso Modelo singular
1 Pedro A Preciosa Pedra Angular da nossa fé
2 Pedro A nossa Força
1 João A nossa Vida
2 João A nossa Verdade
2 João O nosso Caminho
Judas O nosso Protetor
Apocalipse O nosso Rei Triunfante

APÊNDICE BRE

HERESIAS CRISTOLÓGICAS – BREVE HISTÓRICO

Sec. I – Ebionitas (ano 66 até IV Séc. AD). Não admitiam a preexistência de Cristo nem sua divindade. Era um homem comum sobre o qual repousava o Espírito Santo. O motivo era tentar salvar o monoteísmo.
Sec. II – Docetismo (ano 70 a 170 AD). Gr. Dokéu, aparecer. Cristo tinha apenas uma natureza divina. Sua humanidade era aparente, não real, uma ilusão ou Teofania. Não tinha corpo nem vida humana real. Um ser puro não pode estar unido à matéria inerentemente má. Dualismo pagão dentro da igreja.
Séc. III – Adocianismo (Paulo de Samosata + 260 AD). O homem Jesus, filho de Maria, recebeu o Logos no Batismo pelo Espírito Santo. Foi preservado do pecado e por isso, como receptáculo da graça de Deus passou a ter a mente e a vontade do Pai. Idéia semelhante foi também defendida por Teodoro de Mopsuéstia, bispo na Silícia (+ 428), condenado em 553 AD como Nestoriano em Constantinopla.
Séc. IV – Arianismo – (Ário, presbítero em Alexandria, Egito 256-336 AD). Jesus foi criado pelo Pai, embora o ser mais exaltado da criação. Chamá-lo de Deus só metaforicamente. Foi intermediário como Verbo de Deus na Criação. Após a morte de Ário, surgiu o semi-arianismo e várias subdivisões onde se admitia até a eternidade de Jesus como ser não criado, porém não da mesma essência que o Pai, porém semelhante e a Ele subordinado. Foi condenado em Nicéia na Bitíno ano 325 AD.
Séc. IV Apolinarianismo – (Apolinário) Grande escritor do IV séc. AD (C310 AD). Nega a humanidade de Jesus e cai num meio-docentismo. Condenado em Alexandria em 362 AD.
Séc. V - Nestorianismo – (Nestório) Grande orador + 451 AD. Rejeitava a expressão Theotokos para Maria que considerava blasfêmia a Criatura gerar o Criador. As naturezas em Cristo são separadas. A união é apenas moral. Duas pessoas. Condenado em Éfeso 431 AD.
Séc. V - Eutiquianismo – (Eutiques) Condenado em Éfeso 431 AD e em Calcedônia 451 juntamente com o Nestorianismo. O eutiquianismo rejeitava a distinção entre as duas naturezas de Jesus. Há união entre ambas formando uma terceira nem divina e nem humana. O corpo humano era deificado. Havia uma fusão. Monofisismo. Em Calcedônia foi estabelecida a Cristologia ortodoxa da igreja cristã “vere Deus et vere homo” numa só pessoa.
Séc. VII - Monofisismo e Monotelismo – (649 AD). O monotelismo, reedição mais branda do monofisismo juntamente com este foi condenado no Concílio de Latrão (649). Ensinava a fusão da vontade em Cristo numa só. Em 680 AD, em Constantinopla, o monofisismo tornou a ser condenado.
Nos séculos seguintes o monofisismo, adocinianismo e docetismo foram reeditados.
Séc. XVI – Lutero endossou as decisões de Nicéia e Calcedônia. Destacava a presença real de Cristo na eucaristia (ceia). Desenvolveu sua Communicatio Idiomatum na qual advogava a comunicação de atributos ou propriedades entre as naturezas insistindo na onipresença da natureza humana de Jesus. Foi acusado de monofisismo: Jesus não precisaria dos dons do Espírito Santo (não teria sentido) e o desenvolvimento humano de Cristo conforme a Bíblia não subsiste.
Calvino – dava ênfase na separação das naturezas. Rejeitou a ubiqüidade de Lutero. Chegou a ser acusado de Nestorianismo. Tanto Lutero quanto Calvino professavam crer na confissão de Calcedônia e na Cristologia bíblica. Suas ênfases deram lugar às acusações mencionadas.
Séc. XVI Socinianismo – “A doutrina religiosa de Lélio (1525-1562) e Fausto (1539- 1604) e Sócino de Sena, que exerceu sua influência especialmente na Polônia e que compreende principalmente os seguintes pontos:
1. Negação do dogma trinitário; 2. A negação do pecado original e da predestinação; 3. A negação do valor das obras e da necessidade da mediação eclesiástica; 4. O apelo à Bíblia como meio único de salvação; 5. O recurso à razão como único instrumento para a interpretação autêntica da Bíblia. O Socinianismo difundiu-se não só na Polônia mas ainda na Holanda e na Inglaterra; mas sua influência foi enorme sobre toda a cultura liberal moderna.”
ABBAGDANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Ed. Mestre Jou. S. Paulo. S.P. “Socinianismo”.
O Socinianismo enfatizava a humanidade e negava a divindade de Jesus e nutria hostilidade à doutrina das duas naturezas em Cristo.

J
ESUS
HERESIAS CRISTOLÓGICAS ATRAVÉS DOS SÉCULOS

HERESIA SÉCULO HUMANIDADE DIVINDADE
Ebionismo I Afirmada Negada
Docetismo II Negada Reduzida
Cerintianismo II Afirmada Reduzida
Monarquismo Sabeliano III Negada Afirmada
Arianismo IV Reduzida Mutilada (deu base para a origem dos testemunhas de Jeová)
Apolinarianismo IV Reduzida Afirmada
Nestorianismo V Afirmada (mas dividiam a pessoa de Cristo) Afirmada
Eutiquianismo (Monofisismo) V Reduzida Reduzida
Monotelismo VI Reduzida Reduzida
Adocianismo VIII Afirmada Negada
Socinianismo XVI Afirmada Negada
Liberalismo XVIII-XIX Afirmada Negada
Unitarianismo XIX Afirmada Negada
Neo-ortodoxismo XX Afirmada Extremamente complexo para ser definido
Liberalismo Contemporâneo XX Afirmada Negada


APENDICE C

OS CONCÍLIOS CRISTOLÓGICOS

1. O Concílio de Nicéia (325)
Ário, bispo de Alexandria negava que o Filho de Deus fosse de natureza igual ao Pai. Afirmar com propriedade a divindade do filho pré-existente parecia contradizer tanto o monoteísmo da Bíblia como o conceito da unicidade absoluta de Deus. Daí vem, precisamente, a argumentação de Ário que ensinava que Jesus foi “gerado” dando ao temo o sentido de “produzido, feito, criado”. Assim, o Filho seria inferior ao Pai, criado no tempo pelo Pai, servido como instrumento do Pai para criar o mundo.
Para Ário Jesus não era verdadeiro Deus nem igual a
Deus, nem mesmo seria homem, por que a carne (sarx) assumida pelo verbo não podia ser uma humanidade verdadeira e completa.
O concílio de Nicéia acontece neste contexto da escola Alexandrina de cristologia. Em resposta à crise ariana, o concílio de Nicéia (325) sentencia que a filiação divina, atribuída pelo novo Testamento a Jesus Cristo, deve ser entendida num sentido estrito. O concílio gera explicações, afirmando sua filiação divina (unigênito do Pai), acrescenta-se, como explicação, que é ele da substancia do Pai, gerado, não feito, da mesma “substancia do Pai”. Definindo que o Filho é tão divino quanto o Pai e igual a ele na divindade.

2. Concílio de Éfeso (431)

Em Éfeso, como em Nicéia, o problema era como entender a divindade de Jesus Cristo. Mas essa questão foi vista sob perspectivas opostas num e noutro concilio. Em Éfeso parte-se: Em que sentido e de que modo o Filho de Deus se fez homem em Jesus Cristo? A questão, agora, é, diretamente com o Filho de Deus e não mais com o homem Jesus. De que forma ou modo o filho de Deus estava unido ao homem Jesus? Estava em foco a unidade de Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Nestório de Antioquia, depois patriarca de Constantinopla, ensinava que em Jesus Cristo existia duas naturezas, que parecia referir-se a duas pessoas. Em pólo oposto, o bispo de Alexandria, Cirilo, falava de uma só natureza em Jesus, Cirilo entendia a unidade da pessoa (hypostasis). Nestório entendia que o Verbo de Deus não poderia ter sido gerado, como foi o homem Jesus Cristo e por conseguinte, Maria não poderia ser chamada mãe de Deus, apenas mãe de Cristo. Nestório errou ao imaginar dois sujeitos concretamente existentes e distintos: o verbo de Deus e Jesus Cristo.
No fundo nestório rejeita o realismo da encarnação. O docetismo reduzira a humanidade de Jesus a simples aparência. Nestório, não. Ele declara aparente e irreal a humanização do Verbo de Deus. Para Ele, real é a humanidade de Jesus. Que só aparentemente pertence ao verbo de Deus. Portanto o homem Jesus não seria idêntico ao Verbo de Deus, nem o verbo teria se tornado homem em pessoa. O verbo estaria presente e atuante no homem Jesus como num templo e agindo nele. Em outras palavras ele separa Deus do homem. A morte de Jesus na Crus não é mais a morte do Filho de Deus.
Contra atacando, Cirilo de Alexandria argumenta que o filho de Deus, pessoalmente identificado com Jesus, desceu, encarnou-se, fez-se homem, sofreu e ressuscitou e subiu ao céu. Para aclarar o verdadeiro sentido da encarnação do filho de Deus (Jo 1.14), consiste em afirmar que o Verbo de Deus uniu em si a humanidade de Jesus, segundo a “hipóstase” .
Nenhuma definição dogmática emanou do Concílio de Éfeso (431). Mas foi lá que oficialmente foi aprovada oficialmente a segunda carta de Cirilo a nestório. Esta marcou aquele Concílio.
O argumento soteriológica reforça a decisão de fé do Concílio de Éfeso, como ocorrera em Nicéia. Enquanto lá qualquer redução da divindade de Cristo ou de sua humanidade ameaça a realidade de nossa salvação na pessoa dele, em Éfeso o enfraquecimento do elo entre elas ameaçava suprimir a verdade da mediação única do homem Jesus entre Deus e a humanidade.

3- O Concílio de Calcedônia (451)
Éfeso explicou o significado da encarnação nos termos da “união hipostática”. Dessa forma realçou a unidade, mas prescindiu da distinção entre divindade e humanidade. E é nesse ponto, exatamente, que calcedônia completa Éfeso. Calcedônia apresenta um avanço também no vocabulário expositivo do mistério de Jesus Cristo.
A problemática de Calcedônia centra-se na humanidade de Jesus, ou seja: se o verbo de Deus assumiu em si a natureza humana, o que aconteceu a essa natureza, no processo da união? Mantém-se em sua realidade humana ou é absorvida pela divindade do Filho de Deus?
Eutiques, monge de Constantinopla, admitia que Cristo provém de duas naturezas, mas sem permanecer em duas após o processo de união. Para ele, essa união foi como uma mistura, em que o humanidade foi absorvido elo divino, e conseqüentemente, Cristo não é consubstancial conosco, na humanidade. Defendeu que mantendo-se a união, só há uma natureza em Cristo, já que a natureza humana diluiu-se na divina. Punha-se em perigo, assim, uma vez mais, a realidade da mediação singular de Jesus cristo entre Deus e o homem. Já não é mais verdadeiro homem. Desfaz a encarnação. Essas são as implicações do monofisismo.
Nesse contexto, o Papa Leão Magno escreveu ao patriarca de Constantinopla, Flaviano, uma carta dogmática onde o papa concorda com Cirilo de Alexandria, afirmando a unidade de Cristo: ”Ele nasceu com a íntegra e perfeita natureza de verdadeiro Deus e verdadeiro homem, completo (como Deus e como homem). Também fala de duas naturezas. Preservadas propriedade de uma e a de outra, elas se unem em uma só pessoa, ambas completam, em comunhão mútua, o que é próprio (de cada uma).
Portanto, a união hipostática do verbo com a humanidade mantém a alteridade da humanidade na mesma pessoa. A humanidade não é absolvida pela divindade, como pretendia Eutiques.


3. O 3º Concílio de Constantinopla (681)
A questão das duas naturezas divinas e humana dominou o concílio de Nicéia. Éfeso acentuou a união da naturezas. Calcedônia pendeu para a distinção que entre elas persiste. O 3º concílio de Calcedônia realçará o problema da distinção, passando do nível das naturezas – divina e a humana – para sos das duas ações e vontades, que deles procedem.
Jesus distinguiu sua vontade da vontade do Pai, que ele veio cumprir? Como entender isso? Sergio de Constantinopla não falou de dupla vontade, ma de uma só vontade em Jesus. É o que doravante se chama monotelismo. Nesse contexto, corria o perigo, a autenticidade da humanidade de Jesus e a realidade da salvação. Sem vontade e ação verdadeiramente humana, Jesus não seria realmente homem como nós. Assim, ele não teria assumido, por decisão livre e voluntária, sua paixão e morte em fidelidade à sua missão messiânica e em obediência e submissão autônoma à vontade do pai.
Na esperança de acalmar a corrente monofisista a encerrar a crise, Sergio apelou ao papa Honório em favor de sua perigosa teoria, sugerindo, para apaziguar as igrejas, que se evitasse a expressão duas ações, que favorecia a divisão.
Em 649, o papa Martinho I concordou o Concílio de Latrão (Roma) para condenar o monotelismo. Suas principais formulações foram inspiradas em São Maximo Confessor, promulgador maior da doutrina das “duas vontades” em Jesus Cristo. O símbolo do concílio estabelece duas vontades naturais, a divina e a humana, plenamente concordes. O concílio explica que, se há em Cristo duas naturezas, há também duas vontades e dois modos de agir, correspondente a cada uma das naturezas, sendo ambas intimamente unidas no mesmo e único Cristo Deus.
O 3º Concílio de Constantinopla propões a mesma doutrina. Retorna a afirmação calcedônia das duas naturezas e acrescenta a definição das duas vontades e das duas atividades naturais. Frisa que as duas vontades e os dois modos de agir estão unidos numa única e mesma pessoa, Jesus Cristo.