sábado, 30 de outubro de 2010

Liberdade de consciência

Por Marcus Vinícius

O tema acima é extremamente complexo porque exigiria, de inicio, uma definição adequada dos termos liberdade e consciência. É evidente que este não é o lugar apropriado para se tratar do assunto em profundidade. Usaremos o termo, basicamente, no sentido de liberdade de pensamento.
Ninguém deve acreditar em qualquer coisa que seja contraria a sua consciência pessoal. E muito menos ser obrigado a fazer qualquer coisa que contrarie sua convicção ou sua crença. Johannes Hischberger, em sua História da Filosofia na Idade Media, cita Inocêncio III quando responde a pergunta de um fiel que desejava saber até que ponto se pode desobedecer a ordem do superior. Diz o Papa: “Tudo o que não se ajusta à convicção pessoal é pecado; e o que se faz contra a consciência é edificação para o inferno. Não se pode obedecer a um juiz contrariamente à lei de Deus; é antes preferível deixar-se excomungar”.
A liberdade de expressão de pensamento é um direito fundamental do ser humano. Todo homem deve ser livre para dizer o que pensa e assumir a responsabilidade por aquilo que diz e faz. Ora, para que a pessoa seja capaz de expressar responsavelmente seu pensamento, é necessário que ela tenha a liberdade de examinar, de investigar os fatos.
Historicamente essa liberdade está ligada no princípio do livre exame, um dos conceitos fundamentais da Reforma Protestante. Ao tempo a autoridade eclesiástica se havia tornado tão arbitrária que não se permitia que qualquer pessoa ligada á fé cristã examinasse livremente a Escritura Sagrada ou que discordasse, ainda que de leve, da interpretação tradicional da Igreja. Era, como se vê, uma terrível forma de escravização do pensamento que impedia a liberdade fundamental do ser humano.
Com a Reforma veio o princípio do livre exame, que expresso de modo simples, quer dizer que cada crente é livre para examinar a Escritura Sagrada e pela iluminação do Espírito Santo formular sua crença de acordo os ditames de sua própria consciência.
Este princípio tão caro ao pensamente protestante nem sempre é respeitado no contexto da religião institucionalizada. É que as instituições, todas sem exceção, criam mecanismo de defesa contra tudo aquilo que considera uma ameaça à sua integridade. Quando levada aos extremos essa defesa pode torna-se intolerância e fanatismo.
É fundamental, portanto, que as instituições religiosas propiciem ao individuo um clima de liberdade de expressão de pensamento. Caso contrário, elas se tornarão camisas de força às quais somente os ineptos serão capazes de se submeter. Isso significa que tais organizações religiosas correm o risco de perder seus elementos mais criativos e isso pode significar o risco de se tornarem irrelevantes para realidade social.
Por outro lado à liberdade de expressão de pensamento não deve basear-se num individualismo extremo que ignore o valor e a significação das instituições. Em outras palavras, minha liberdade de consciência não me autoriza a ser iconoclasta. Como filho de Deus, sou livre, mas existo num contexto de relações significativas em que devo respeitar a liberdade do outro. Não se trata aqui de mera coexistência pacifica, mas de verdadeiro respeito à dignidade fundamental do outro que, como eu, foi criado à imagem e semelhança de Deus.
 Tenha um bom dia e fique com Deus. Eu estou com Ele.

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