Depois de mais de cem anos
da presença evangélica em terras brasileiras, ainda faz-se necessário, muito esclarecimento
e divulgação da doutrina da mordomia. Ouso
até dizer que nem o nome mordomia pegou, pois ainda ele não se acha incorporado
ao universo vocabular do crente comum com o significado real que os teólogos
gostariam que ele fosse entendido.
Mordomia, hoje, para o
povo do ”mundo”, tem um sentido altamente pejorativo. Significa usufruto fácil
de vantagens e benefícios, à custa do dinheiro alheio, significa esbanjamento,
com proveito próprio, principalmente dos dinheiros e dos bens público do
governo.
E para os crentes em
geral?
Lamentavelmente, apesar do
esforço e da sinceridade de ilustres pastores, os crentes associam a mordomia a
dízimo, a dinheiro entregue a igreja, com suspeitas de que o termo seja um mero
eufemismo, usado pelos pastores para encobrir ambições pessoais, sempre
relacionadas com o aumento dos seus salários.
Já há uma interpretação
desaconselhável do termo mordomia, entre os crentes pouco responsáveis e que
desprestigiam e depreciam a beleza da doutrina bíblica, em favor da chacota, do
humor pouco respeitoso, da malicia anticristã. Dizem por exemplo, que a melhor significação
para o termo mordomia é a de que: “O pastor MORDE e o crente MIA”.
Qualquer doutrinação,
qualquer que seja a sua finalidade, só há de ter pleno sucesso e total
aceitação se, por trás dela, apoiando-se e dando–lhe o embasamento necessário
houver uma IDEOLOGIA que a justifique.
Por que os antigos
aceitavam a escravidão como a coisa mais natural do mundo? Sócrates, Platão e
outros filósofos defenderam abertamente a escravidão. É que havia uma IDEOLOGIA
que a justificava, e esta ideologia era expressa na seguinte afirmação: “Há homens que nasceram para ser livres e
outros nasceram para ser escravos”. Enquanto tal ideologia não foi
contestada a escravidão permaneceu no mundo, aceita por todos pacificamente.
A Idade Média consolidou
uma ideologia que hoje ninguém aceita. Alguns historiadores de ETICA
PATERNALISTA CRISTÃ. Tal ideologia, baseada numa interpretação errônea da
Bíblia, era aceita, sem discussão, por todo o mundo. Segundo a referida ética,
era vantagem ser pobre, porque herdaria o reino do céu. Ser rico era um
tormento, visto que, para a salvação, tinha de fazer caridade, daí a
necessidade da existência dos miseráveis.
Tão grande era a aflição
dos ricos, que Clemente escreveu uma
obra: “Da salvação do homem rico”, com o fim de acalmar os que possuíam
dinheiro e que viam no evangelho de Lucas a sua condenação ao fogo do inferno.
Se quisermos modificar o
comportamento dos crentes relativamente à doutrina da mordomia, temos de fazer
o que ainda não foi feito: desenvolver, divulgar, incutir, reordenar as
estruturas mentais dos crentes, fazendo-os ver que mordomia, como a entendemos
biblicamente, pouco tem a ver com dinheiro, com bens materiais.
A ideologia, que deve
orientar e tornar-se o fundamento para o comportamento dos salvos, é a
aceitação incondicional do Senhorio de Cristo. No momento em que o crente
realmente se convence de que Cristo, não somente é o salvador, mas o Senhor da
sua vida, o dono de tudo, pronto, o problema está resolvido. Não haverá nem
necessidade de falar-se em dinheiro. A fundamentação ideológica levará o crente
a entender, na teoria e na prática, que tudo é de DEUS e é um dever seu colocar
aquilo que, aparentemente lhe pertence, a serviço do seu legitimo dono.
O escritor Meyer contou
que, antes de aceitar o senhorio de Cristo, certa vez teve involuntariamente, a
sua calça rasgada. Irritou-se, afobou-se, pegou o carro e o guiou
apressadamente e sem controle, quase atropelando pedestres que passavam.
Depois, meditando melhor na verdade de que nada era seu, passou a raciocinar
diferentemente e, cada vez que acontecia alguma coisa que resultava em perda material
ou em danos, ele falava para si mesmo: “Senhor,
estas calças que não são minhas, mas Tuas, tu permitiste que se rasgassem.
Certamente tu queres que eu faça uma calça nova, para repartir o que eu ganho
com o alfaiate, que precisa ganhar dinheiro para sustentar a sua família”.
Igualmente, quando o carro
quebrava, ou outro objeto qualquer se extraviava, Mayer considerava que Deus
permitia que tudo acontecesse, pois nada pertencia ao escritor, mas ao Senhor
que o levava a distribuir a sua renda com os outros.
É isso aí, o Senhorio de Cristo é o que conta. Deus,
em Cristo, como o Senhor de nossas vidas e dono de tudo quanto existe no universo.
Abraço
Marcus Vinicius
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