Por Marcus Vinícius.
Um aprofundado estudo da renomada Universidade de Oxford faz afirmações,
assegurando o futuro do cristianismo, cuja importância estaria aumentando
também estatisticamente.
O que
dizem as estatísticas a respeito do futuro da fé? Será verdade que, dentro de
alguns anos, os cristãos serão uma minoria religiosa num mundo cheio de
chineses e indianos, culturalmente arredios ao Evangelho?
Para
a Enciclopédia Mundial do Cristianismo (dois volumes com 1800 páginas,
publicado meses atrás pela Oxford University Press), a resposta
seria “clara”: as projeções dizem que em 2050 existirão no mundo pouco mais de
três bilhões de cristãos, correspondendo a 34,4% do total da população mundial,
calculada em 9 bilhões de pessoas. Isto não significa uma diminuição, em termos
globais do cristianismo, mas até um pequeno incremento. Em números absolutos,
os atuais quatro bilhões de pessoas que não se reconhecem no Cristo serão seis
bilhões, confirmando-nos, mais uma vez, que a missão ainda não está concluída.
Num grupo de três pessoas, duas não serão cristãs.
OS SEGUIDORES DE CRISTO
Mas,
o que significa ser cristão em 33.800 Igrejas e confissões que assim se auto
definem, distribuídas em 8.900 povos do mundo, que falam mais ou menos 7 mil
línguas diferentes? E ainda, como se distribuem os atuais dois bilhões de
cristãos, numa população de mais de 6 bilhões, dos quais 46% vivem num estado
de pobreza mais ou menos absoluta?
TOTAL DE CRENTES NAS DIVERSAS RELIGIÕES: 85% DA
POPULAÇÃO
•
CRISTIANISMO: 34,4% sendo subdivididos:
17,5%: católicos
6,2%: independentes
5,4%: protestantes
3,6%: ortodoxos
1,3%: anglicanos
0,4%: marginais
•
Islã: 19,6%
•
Hinduísmo: 13,0%
•
Religiões chinesas: budismo e confucionismo: 12,3%
•
Judaísmo: 0,2%
•
Outras: 20,5%
A resposta está em
milhares de tabelas e milhões de números, páginas e páginas de gráficos –
explicam os autores da Enciclopédia Mundial do Cristianismo –,
para apresentar a “enorme complexidade religiosa do mundo contemporâneo. Uma
situação que não é estática, porque, a cada ano, milhões de pessoas mudam sua
confissão religiosa ou filiação cristã”.
A Enciclopédia enfrenta
tal complexidade, analisando a história de dez em dez anos, a partir de 1990,
com um horizonte completo, no perfil geográfico de um total de 238 países.
OS GRANDES GRUPOS
Para os dez mil
colaboradores que participaram da coleta de dados, a história também ajuda a
explicar o quadro estatístico da fé no mundo e, em particular, a do
cristianismo. Nos últimos quatro séculos, o mundo cristão foi alvo de profundas
transformações em termos eclesiológicos.
No fim do século 16, a
cristandade apresentava-se dividida em quatro grupos: o ortodoxo, o católico
romano, o anglicano e o protestante. Durante o século 19, foi surgindo um
quinto grupo de cristãos que podemos chamar “cristãos periféricos”.
“Este bloco” – explica a
Enciclopédia – “inclui os mórmons, as testemunhas de Jeová, os fiéis de Cristo
cientista e outros grupos minoritários, todos caracterizados por uma ou duas
das seguintes categorias: 1) uma cristologia não trinitária ou anti-trinitária,
e 2) a pretensão de ter uma outra revelação divina além da Bíblia”.
FIÉIS QUEIMANDO INCENSO EM TEMPLO BUDISTA
Atualmente, a esses cinco
grandes grupos, está se juntando um sexto, que surgiu e se desenvolveu nos
séculos 19 e 20 e que é a grande e crescente novidade no cenário do
cristianismo mundial contemporâneo.
São cristãos independentes
que incluem os pentecostais, os carismáticos e neocarismáticos, os movimentos
de renovação que se concentram no Espírito Santo e no carisma do indivíduo
dentro do grupo.
Há também os
neo-apostólicos que, até hoje, já superaram a soma dos grandes grupos
históricos anglicanos e protestantes e, com muita probabilidade, em 2025, serão
mais de um quarto de toda a cristandade.
Analisando mais
detalhadamente os quase dois bilhões de cristãos de hoje, vemos que estão em 3
milhões e 445 mil congregações, ou seja, paróquias, igrejas, e templos, com
quase 1.888 milhão de fiéis, enquanto os outros 111 milhões não se identificam
ou não são associados a nenhuma confissão. As 33.820 confissões subdividem-se
em dois grupos: o primeiro reúne os cinco primeiros grandes grupos (ortodoxos,
católicos, anglicanos, protestantes e periféricos) e o segundo, o último grande
grupo, o dos independentes. No primeiro grupo, há 11.830 confissões, com um
bilhão e meio de fiéis, enquanto no segundo, estão as outras 21.990 confissões,
com 386 milhões de seguidores.
Essa pormenorização dos
dados serve, em primeiro lugar, para mostrar a complexidade do mapa do
cristianismo no mundo e também ajuda a entender como acontece a adesão à fé
cristã, nos diferentes contextos geopolíticos. Hoje, o cristianismo é a mais
extensa e universal religião da história humana. Não existe país no mundo onde
não haja, ainda que pequena, a presença de cristãos. Talvez pudéssemos falar da
existência de uma “cristandade verdadeiramente ecumênica”.
A PRESENÇA CRISTÃ NO MUNDO
Os cristãos superam 50% da
população em dois terços do mundo, enquanto são minoria no terço restante. Mais
detalhadamente, superam 90% em 84 países; estão em minoria (10%) em outros 51.
São menos de 1% em quatorze países e não superam 0,5% em 8: Afeganistão,
Argélia, Butão, Maldivas, Mauritânia, Saara Ocidental, Somália e Iêmen.
Os pesquisadores da Enciclopédia
Mundial das Religiões calcularam que, em números absolutos, os cristãos
aumentam 25 milhões por ano, especialmente nos países em desenvolvimento.
De fato, é no Terceiro
Mundo que o cristianismo mais se desenvolveu no século 20. Na África, por exemplo,
constata-se uma média de 23 mil pessoas, por dia, que se tornam cristãs, o que
corresponde a 8 milhões e meio por ano.
Na Ásia, continente
considerado culturalmente fechado ao anúncio evangélico, os novos cristãos
chegam a quase dois milhões e meio por ano.
Todos os dados confirmam
que, nas regiões menos afortunadas do planeta, as confissões cristãs “ganham”
novos fiéis. Isso – conforme os pesquisadores – seria explicado pelo fato de
que a pregação evangélica inclui reivindicações de justiça social e uma clara
mensagem da predileção divina pelos pobres e oprimidos.
Nos últimos sessenta anos,
nos países de antiga tradição cristã, o cristianismo teve perdas substanciais:
a cada ano, de fato, cerca de 1.820.500 fiéis abandonam a fé, trocando de
religião, tornando-se indiferentes ou proclamando-se ateus.
Em média, 8 mil cristãos,
por dia, deixam sua Igreja e sua fé. Essa hemorragia, de nível mundial, supera
levemente o número dos que aderem ao cristianismo – concluem os pesquisadores.
Esse fenômeno de desistência,
nos países mais ricos, pode estar ligado ao fenômeno cultural que se costuma
chamar de “secularismo”, mas existem também outras causas que influem, como os
matrimônios mistos entre cristãos e não- cristãos.
Sabe-se, todavia, que os
dados do aumento ou do decréscimo estão estritamente ligados aos dados da
secularização, em particular ao aparecimento dessas “quase religiões”, ou seja,
o agnosticismo e o ateísmo.
OS NÃO-CRENTES
O termo “quase religião”
poderia surpreender, mas os pesquisadores empregam-no com razão, pois estas se
justificam na tentativa de explicar o mundo e oferecer novos símbolos e novos
significados à vida humana, individual e social, apresentando-se como um
verdadeiro substitutivo à fé cristã tradicional, pelo menos no Ocidente.
Além disso, o que era um
fenômeno quase inexistente no começo do século passado (0.2%) passou a
constituir um grupo que aparece em qualquer relatório científico: os
não-crentes já somavam, em 1980, 15% da população mundial. Hoje, os que se
declaram não religiosos superam os 900 milhões e aumentam de 8 milhões e meio a
cada ano. Distinguem-se, entre eles, os agnósticos, que não acreditam em nada,
e os ateus, que são contra a religião.
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