Texto elaborado para uso em aula pelo Prof. Marcus Vinícius
Teologia
cristã, sincera e vital, tem como alvo o conhecimento de Deus e do homem. A
relação entre o Criador e a Criatura se torna possível pela comunhão que se
resulta da revelação que Deus oferece de si mesmo.
Comunhão,
podemos assim dizer, significa participar na união vital com Deus por
intermédio do Espírito Santo. Esta interação deve ser reconhecida entre duas
pessoas inteiras. Insultamos a pessoa do Espírito se sua presença nunca pode
ser percebida porque somente existe no subconsciente. Por outro lado,
argumentar que o espírito vem com tal força que aniquila a personalidade
através de uma espécie de “possessão”, não passa de um insulto a personalidade
humana. A experiência de cristãos que
desejam santificação se caracteriza por uma busca pelo controle divino mais
estreito sobre nossos desejos, ambições e tempo.
Calvino,
na sua exposição do credo dos apóstolos, intitulada “Instrução na fé” disse,
“Quando somos ensinados a crer no Espírito Santo, somos também mandados a
esperar dele o que dele as Escrituras afirmam. Do Espírito podemos esperar o
fruto que caracterizava a própria personalidade de Jesus Cristo.” Pelo Espírito
mortificamos os feitos do corpo “passa de teoria para vivência, somente na hora
que mudanças reais marcam nossas ações e reações. A promessa que acompanha essa
verdade,” certamente vivereis “(Romanos 8:13), nos lembra Tiago. Fé sem obras
deve ser sepultada e esquecida sem qualquer marca no túmulo.
As obras
da carne tais como impureza, lascívia, ciúme, ressentimentos, vingança, cobiça
e ira não podem conviver em harmonia com o Espírito de santificação ( Gálatas
5:19-20). Até aqui todo estudante concorda, em tese.
Aceitamos
intelectualmente a convivência do espírito de deus com nosso espírito
pecaminoso, herdado de Adão, porque perfeitamente qu uma conversão, mesmo das
mais radicais, é somente parcial. Racionalizamos, portanto, que se nesta vida
terrena nunca venceremos, para quê esforçarmos muito na corrida pela
santificação (Hebreus 12:14)?
João
Owen (1616 – 1683) refletiu acerca deste tema, deixando-nos o seguinte
conselho: “Traga a tua paixão ilícita ao evangelho, não para alcançar alívio,
para maior convicção da culpa; olhe para Ele que tu transpassaste e fica
amargurado. Fala para tua alma” Que é que eu fiz? Que amor, que misericórdia,
que sangue, que graça desprezei? Seria
este o retorno que faço ao Pai pelo seu amor, ao Filho pelo seu sangue e ao
Espírito por sua graça?... tenho maculado o coração que Cristo morreu para
lavar e o Espírito tem escolhido para habitar?”
Estas
palavras mostram que as verdades concretas e históricas do evangelho, não podem
ser desligadas da vida de quem crê nessa palavra regeneradora. O Espírito e a
palavra juntos cooperam para convencer de que a prática das obras da carne
resultará na perda da herança no Reino de Deus (Gl.5:21; I Cor. 6:9-10;
Ef.5:3-5).
E
não é apenas o abandono de “feitos do corpo” ou “obras da carne” que marcam a
vida do cidadão do céu. Do lado positivo aparecerão frutos de arrependimento
(Mt. 3:8). O propósito da criação do homem na imagem divina é afirmado em vários textos, mas em
nenhum tão claramente como em Romanos 8:29. O Senhor Jesus Cristo não viveu
neste mundo apenas evitando o mal. Pedro expôs na casa de Cornélio, “como deus
ungiu a Jesus de Nazaré com o espírito santo e poder, o qual andou por toda
parte fazendo o bem ...(Atos 10:38).
Uma
teologia que não tem nada a dizer sobre santidade positiva, amor prático e
obras boas, consequência da vinda do Espírito para residir no corpo do cristão,
não é bíblica. Pode ser erudita, convincente, liberal, mas não fica marcada
pela sabedoria que vem “lá do alto” (Tg. 3:17). Professor Paul Tillich tem nome
entre os teólogos gigante de nosso século. Após sua morte sua esposa confessou
que ela tinha concordado com ele a despeito do fato que ele tinha uma amante. O
Espírito de Cristo, o autor da vida de Jesus Cristo, dentro da igreja
corporalmente e individualmente, dificilmente endossaria tal contradição entre
teologia e vida. No processo montado contra Jesus pelos oficiais do templo, o
sinédrio e o sumo sacerdote, nada constou de algum malfeito cometido por ele.
Os evangelhos são repletos de relatos de sua bondade. Foi acusado de malfeitor,
mas um entre os que melhor lhe conheciam declarou, “não cometeu pecado” (I
Pe.2:22). Mostrou integralmente como deus quis que o homem vivesse no contesto
da Palestina no século primeiro.
Conclusão. A teologia deve constantemente
contextualizar a fé de maneira bíblica e relevante. O teólogo deve tentar
responder a pergunta: “Como devem viver os cristãos brasileiros de maneira que
a luz que Deus é seja refletida a todos?”. A vida é uma “carta de Cristo
conhecida e lida por todos os homens” (II Cor. 3:2-3). Mas se a mensagem da
vida tem pouco ou nada que caracteriza a pessoa de Cristo, certamente a
teologia deficiente deveria ser culpada. Daí a solenidade como a teologia
deveria ser encarada.
Sem o erro ajudando, talvez nunca reconhecêssemos a
verdade.
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